1 de outubro de 2010

VOTO PELO AVESSO: HORA DE CAIR A FICHA


Já decidi meu voto, em quase todas as instâncias. Foi uma caminhada (vamos evitar “processo”, tudo agora é processo) complicada. Vim do voto nulo, fiel à minha tese de que ainda vivemos na ditadura de 1964, consolidada a partir de 1985. Não abri mão dessa idéia, que se confirma diariamente. Só que ela migrou: agora falam em ditadura para que adversários possam se acusar mutuamente, como se democracia tivéssemos num ambiente eleitoral obrigatório e com o sistema político engessado. Mas é o que temos e se o voto útil é o velho voto de cabresto renovado, nesta eleição urge tomar posição contra o governo, em todos os níveis.

Não porque teremos ditadura se Dilma for eleita, pois na ditadura vivemos a vida inteira. Mas porque o desplante do grupo palaciano que empalmou o poder e convenceu o bobalhão ágrafo a lançar um poste (são suas próprias palavras) para presidente são humilhações difíceis de suportar. Ainda mais que essa descompostura, intensificada pelas recentes denúncias de tráfico de influência na Casa Civil, o segundo cargo mais importante da República, é apoiada por milhões de pessoas. Não se dão conta do que realmente acontece: o cidadão idealista entrega de mão beijada, para a cretina que se candidata, todos os seus sonhos, suores, lutas e vontades, achando que ela encarna o que há de melhor, o que sua performance diante das câmaras e sua biografia contestam com veemência.

Mas não vamos entrar no mérito da questão. Já fiz dois textos sobre isso, um convocando o principal candidato da oposição a tomar uma atitude (ele realmente melhorou, não por minha intervenção, óbvio, mas porque estava na cara e a assessoria deve ter se mexido diante das inúmeras pressões) e outro falando diretamente com a sujeita que pretende ser presidente. O que preciso dizer é sobre o voto pelo avesso. Não podemos jogar o voto fora, pois cada cidadão tem obrigação de contribuir para afastar essa quadrilha do poder central. Não podemos aturar mais um mandato com pessoas sinistras se sucedendo na Casa Civil ou assessorando criminosamente o presidente, como atestam inúmeras evidências e até mesmo um veemente relatório da Procuradoria Geral da Justiça, que decifrou o mensalão.

Lamento que esta campanha tenha feito mais estrago do que a anterior. Em 2006, já sabíamos com quem estávamos lidando (em 2003, ainda não), mas fomos derrotados. Votei em trânsito na ocasião, lavei as mãos. Como finalmente migrei meu título para cá, em Florianópolis, tenho tomado decisões sobre o voto e isso tem conseqüências. Costumo fazer algumas inimizades e também me arrepender, pois com a oferta medíocre que sempre nos apresentam, é fácil errar o voto. Para evitar Maluf, votei no marechal do Carandiru, para expulsar FHC, entronizei um tirano. Mas não podemos evitar. É o que há, então vamos nos comportar como um gado veemente, berrando, pelo menos, na fila do matadouro. Pior é ser abatido em silêncio.

Meu voto é contra o governo e seus aliados. Voto contra todos eles, federais ou estaduais, estejam ou não aqui no estado onde moro. Voto contra Gilberto Carvalho, José Dirceu, Pallocci, Sarneys, Collor, Dilma, Mercadante, Suplicy, Martha, Netinho, Amorim, Mantega, Garcia, Genoino, Tarso Genro. Voto também contra todas as defecções do governo, a turma que saiu na época do mensalão e hoje posa de vestal, de alternativa de poder, quando não passam de bois de piranha, atraindo votos dissidentes para livrar a cara dos candidatos oficiais. Voto contra os ex-petistas Marina Silva, Plínio, Gabeira, Cristovam Buarque, Helio Bicudo, Leonardo Boff e todos os psois e pstus.

Tomei decisões graves nessa campanha. Voto contra todos os que pregam a ditadura do proletariado e se disfarçam de democratas, e contra os que exerceram a ditadura brasileira e hoje berram contra o PT, que ajudaram a inventar quando sucatearam o trabalhismo histórico.

Voto contra quê, mas também voto em quem. Voto em Serra, porque é o único anti-Lula, com a vantagem de ter rompido com FHC, o que decidiu meu voto. Voto em Ângela Amin e seus dois candidatos ao Senado, porque prefiro a Santa Catarina anterior à minha vinda, quando Angela tinha poder sobre as políticas públicas aqui e ajudou a fazer do estado um modelo que depois se perdeu. No estadual e federal, já decidi, mas talvez mude de idéia.

Cheguei a esse resultado numa trajetória pelo avesso. Queria votar nulo, mudei de idéia. Não me omiti. Posso decepcionar pessoas, mas não me importo. Estamos sós neste mundo lotado. O que importa é o que decidimos com a lucidez possível e a coragem que nos resta.

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