30 de outubro de 2010

EXEMPLO


Nei Duclós

Não canto os mortos de hoje
Haverá quem cante
Não canto a paz com honra
Haverá quem cante
Não canto os sonhos no front
Haverá quem cante

Canto o brasileiro raro
exemplar distante
Aquele que impôs o diálogo
no lugar de tanques
Aquele que em Timor Leste
trouxe a esperança

Canto seu andar
livre e soberano
Canto seu fervor
sobre o incêndio
Canto seu mergulho
por demais humano

O que o talento faz com o destino
Sérgio é o exemplo.
O que o exercício da soma
traz de grandeza!
O que pode dizer de um herói
qualquer poema?

Canto porque não foi em vão
este projeto
que uma civilização engendrou
em campo aberto
Canto porque um só homem
faz diferença
Basta que ele saiba como
compor o gesto:

Esse punho cerrado
se houver concreto
Esse abraço sem freio
se chegar gente
Esse nado na praia
por trás do vento

Canto o mar que repousa
na sua infância
A onda que viajou o mundo
e voltou mansa
Canto o que fica vivo
e não o morto

Canto a saga que resiste
Canto para dar o troco


RETORNO - Para celebrar as sessões da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que programou o documentário Sergio, de Greg Barker, publico mais um poema dos 23 que fiz, dedicado a Sergio Vieira de Mello, e que foram escritos desde o momento em que soube da sua agonia até quando foi enterrado. Nesta fase delicada da vida nacional, invoco o exemplo do brasileiro maior, mártir da paz entre os povos. Que nos sirva de inspiração.

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