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7 de setembro de 2010
HORA DE SUBIR A SERRA
José Serra não quer ser presidente do Brasil. Perde uma oportunidade de ouro, pois jamais alguém teve como adversário uma criatura como Dilma, com uma biografia tão desastrada, uma pessoa que não consegue completar uma frase, que dirá um discurso e que nas fuças da nação se maquiou para fingir que é o que jamais foi ou será. Em vez de atacar um governo venal e acusado de inúmeros crimes, Serra se abraça com o presidente.
Em vez de apresentar soluções para a política econômica perversa, prefere ficar no diagnóstico. Em vez de atacar de frente sua adversária, fica atrás de factóides como a quebra de sigilo em Mauá. Em vez de falar claro, firme e forte fica com os lábios túmidos como se chupasse pitanga, olhando o telespectador como se esse fosse um bocó e tentando seduzi-lo com uma arenga cheia de maneirismos como “você veja” ou “estou convencido”.
Candidato Serra, o sr. está cercado de puxa-sacos, portanto, de traidores. Ninguém lhe diz a verdade porque estão todos garantidos antes e depois das eleições. Estão a mando dos seus inimigos internos e externos e por isso o sr. claudica, tropeça e cai. Esse é um papel para alguém de fibra, candidato. Arroste esse encargo como um herói de verdade, de maneira absolutamente solitária. O sr. pode e deve queimar os próprios navios e encarnar a indignação nacional, que está em pânico na mão dos bandidos em todos os níveis de poder.
Para isso é preciso estar pronto para morrer. Foi a lição de Getúlio Vargas em 1930: não podemos perder, não teremos exílio, é a vitória ou a morte certa. Com essa disposição, impossível perder. Os canalhas estão se locupletando, já estão no terceiro mandato, porque o sr. e os outros candidatos que deveriam se opor são apenas clones pífios do Mal que tomou conta do país. Mas o sr. poderia fazer diferente, se desvencilhar da perspectiva de voltar como prefeito ou governador de São Paulo.
Pense o seguinte: se o sr. não vencer essas eleições, não for para o segundo turno e lá derrubar o continuísmo com uma estaca no coração dos vampiros, então nada restará para o sr. Não haverá perdão por ter perdido essa oportunidade de impedir que completem essa obra soturna, a venda total do país. Custa fazer um discurso de verdade? Por que essa conversalhada gaguejante, metida a informal? Não queremos informalidade, queremos grandeza. Temos fome de transcendência, candidato, e isso o sr. não nos oferece.
Por que o sr. não vai em cima dessas pesquisas manipuladas, em vez de ficar aceitando os índices como se fossem definitivos? Por que o sr. não fala em auditar as urnas eletrônicas, que facilmente poderão manipular o voto? Por que o sr. não se cerca de voluntários apartidários, que estão fartos desse jogo sujo, para ir em cima, no varejão da política, de tantas coisas que se cometem para eleger mais uma gestão desse monstro que devora o país? Esteja à altura do momento, candidato. Chega de arenga e parta para algo com chance de mudar o jogo.
Não se aconselhe mais com quem o cercou até agora. Afaste-se de todos. Assuma sozinho essa tarefa. Escute quem nada lhe pede ou espera. Ou o sr. vai mesmo deixar escapar essa chance de termos um presidente com plena noção da perversidade da política econômica, mas fica tergiversando como se ainda houvesse tempo? Prometa destruir todos os pedágios, acene com a pena de morte para crime hediondo, mostre um plano de transportes decente , de saneamento básico, de obras em massa, uma reforma tributária e educacional pesada, uma política internacional séria.
O pior já passou: o sr. perdeu apoio e sua candidatura marca passo. É hora de subir a serra, candidato. Fazer como os pioneiros que deixaram o litoral para desbravar o que se escondia atrás do paredão de montanhas. Para isso foi preciso contrariar interesses, proibições, ameaças, para fincar no topo a bandeira tecida na planície. Hora de rasgar as mãos no esforço da subida, de ver faltar o chão. Hora sagrada de enfrentar a morte. Nessa hora, candidato, se fizer isso, conte com o apoio da nação em farrapos. Não porque sejamos a favor do seu partido ou do seu passado. Mas porque veremos um gesto de verdade, tomado no calor da luta.
Porque ainda há Brasil e ele está de prontidão no fundo do coração exausto.
Brasil, 7 de Setembro de 2010
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