10 de maio de 2020

MINHA MÃE


Nei Duclós


Minha mãe se foi cedo, aos 62
Para mim, que hoje sou nove anos mais velho
ela era uma anciã, de lentes grossas devido à catarata
E ficava em pé cada vez mais frágil
Nunca vi minha mãe correndo
Andava devagar e a tudo observava
Parada e só como árvore isolada no pampa

Criou sete filhos, sendo quatro marmanjos que lhe deram trabalho
e cada um jura que era o favorito
Levava as gurias para os bailes e a todos encaminhava nos estudos

Lecionava multidões de alunos que iam dividir o café da tarde conosco
Só sei até o ginásio, dizia
E isso bastava

Tecia puloveres com mangas enormes pois cresciamos e a lã durava mais de um inverno

Decifrava charadas dos jornais usando dicionário Lello
E foi a primeira leitora das minhas poesias
Aos dez anos eu já era um intelectual e dizia para ela
Fiz um poema mas acho que tu não vai entender
Ela achava a maior graça e contava para as amigas

Foi assim que eu não sendo nada virei coisa
Pela mão de quem representava a divindade na terra
 

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