Coragem tinha meu pai
Que me levava à noite pelo mato até as corredeiras atrás de
dourados
Que dormia na calçada no verão
Que tinha uma peça sem porta cheia de armas onde até as
crianças podiam ficar
Que nos punha ao relento em acampamentos de dois graus
negativos
Que criou nove filhos sendo dois fora do casamento
Inventando fontes de renda como a lenheira do quintal e o
armazém no galpão de casa
Que não obedecia fronteiras para seu comércio
Que pescava o ano todo e na semana santa punha seus peixes
para vender
no ombro dos que andavam pelas ruas caminhando de maneira
estranha
Que às vezes era atencioso e gentil com os filhos e sempre
com quem conversava
E dizia o que pensava e era querido em toda cidade por ser
franco e leal
Coragem tinha meu pai
Eu sou outra coisa
Este me saiu poeta, dizia ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário