Bolsões sinceros, mas radicais, de romantismo
Nei Duclós
É POUCO
É pouco o que mostras
Apenas o esboço de uma conversa
As linhas do rosto
Preciso mais
Não o teu corpo
Oculto patrimônio
Mas tua voz
Flor do meu sonho
REMORSO
O que chamas de tentação
É só a realidade
O que buscas e negas
Por puro remorso
Venha logo
em vez de ter um troço
ABSURDO
Não misture as estações
Disse ela
Não confunda meu alô
Com entrega
Nem sempre verão
É primavera
É como a flor
ainda na estufa
Qualquer descuido
Quebra o clima
Esqueça que eu exusto
Mas não se fie muito
Distraído
A conquista é um absurdo
Ficar mudo diante do explícito
Fingir que temos tempo
De espera
DIÁLOGO
Ela disse: Deus me fez
mulher só para te querer
Não encomendei
Mas recebo e assino
embaixo, falei
Cuidado com a sorte
que te dei, disse
a divindade
E acrescentou:
Para o amor chegamos
à terceira idade
Você errou quando moço
Agora presta atenção
nas tuas bobagens
O poema tem disso
Nos leva pela mão
Até a coragem
FUNDURA
Não me custa dizer
Quando me escutas
O duro é saber
Que não te atinjo
Sou pedra que rola
Em teu profundo
Ser
Riacho que brota
No topo da montanha
e na fundura do abismo
DEVOTO
Ninguém entende o amor que te devoto
Sem retorno, porque é conscrito
Estou preso ao sentimento e nele me atenho
Dizem perda de tempo mas me pergunto
A melhor opção seria desistir do que nos pega
E manter-se neutro como um embaixador em férias?
Ou descer o rio em precária barca
Rumo à sereia que se banha em rosas?
DESEJO
Fogo aceso no sangue do desejo
Que expões no teu rosto vermelho
Salpicado de pimenta do reino
Que arde no beijo e no cheiro
Brasa que queima, tua pele eterna moça
Sem a febre ansiosa das donzelas
Com o brando calor de uma doçura
Que crepita como palavra suja
Vens de pés descalços, sinais de loucura
E o vestido molhado na fissura
Dura tua vontade, água na fervura
Que faz crescer a chama
até atingir a chuva
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