No final da leitura de Casablanca - A criação de uma
obra-prima involuntária do cinema (Estronho, 128 pgs.) - noto que o autor,
Renzo Mora, encerra sua obra como Ricky
(Humphrey Bogart) se despede de Ilsa (Ingrid Bergman): de maneira lúcida, determinada
e amorosamente amarga. Pois Renzo, como Bogart, é o que dizia Jack Hawkins
sobre Peter O'Toole em Lord Jim, de Richard Brooks: um dos nossos.
A força e a coragem de Ricky segura o filme, que é uma
confluência de motivos para um fracasso, mas que a soma de talentos envolvidos
e de personalidades que servem de bagagem aos protagonistas contribuem para o
mais amado filme da História do cinema.
Também como Ricky , Renzo tem a grandeza de servir de âncora
para resgatar os detalhes minuciosamente pesquisados e que nos são dados de
bandeja, e, como um autor honrado, abre
mão da prenda maior, o crédito. Parece que tudo foi dito, já que o livro elenca
inúmeros trechos de escritores, ensaístas e memorialistas célebres. Mas Renzo
se reserva o principal.
Primeiro, a importância do timing, que tanto na sucessão de
capítulos quanto das cenas e personalidades na frente e atrás das lentes,
obedece à sedução do suspense. Segundo, sua quase imperceptível contribuição
para a originalidade da montagem que faz do livro - o que torna esta obra
escrita amada e sedutora. Ela foi
entregue a nós, leitores, beneficiados pelo desprendimento do herói que fazia
tudo errado e num lance definitivo decide a parada.
E, o mais importante: a transcendência do pacote todo em que
o Acaso, esse deus laico muito considerado pelo agnóstico Renzo, se impõe como
um raio de luz não previsto, mas real.
A não ser que Deus exista e seja escritor - e escreva sobre
cinema.
Nei Duclós
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