Percorro o vasto cabedal de conhecimento de filosofia
comparada e comentada no site criado, desenvolvido e mantido pelo meu filho
Miguel Lobato Duclós. E o que era admiração vira assombro, pois em tudo ele
extrapola com seu trabalho de infinita capacidade de estudo e ensino.
No site Consciencia o visitante fica sabendo não apenas o
básico sobre Maquiavel, Rousseau, Nietzsche, Thomas More, Aristóteles, Platão,
entre centenas de outros gênios, mas tem acesso à produção de pensamento que
cruza conceitos e cria janelas para uma percepção mais ampla do que existe nos
livros. O autor do site e seus inúmeros colaboradores ousam pensar sobre os
temas mais relevantes. Nenhum assunto é estranho ao Consciencia, que tem ainda
on line uma biblioteca de apoio, com textos completos de filósofos antigos e
contemporâneos, e de autores de outras áreas, que funcionam como um
impressionante mural do que se escreve no universo da cultura. O link da
biblioteca do Consciencia é este: http://www.consciencia.org/biblioteca.shtml
Nestes posts logo depois de sua passagem para o Outro Lado,
seleciono alguns textos que ele apresentou em sua graduação. O menino brilhante
que não teve acesso a títulos, hoje tão disseminados, de mestrado e doutorado,
deixa o legado precioso do saber sem nada ter pedido em troca.
Paz, meu amado filho.
(A imagem é de René Magritte, que Miguel colocou no seu
espaço aqui no face.)
"CERTAS SEMELHANÇAS ENTRE UTOPIAS"
Miguel Duclós
Trabalho originalmente apresentado para a cadeira de
Filosofia Geral III – FFLCH-USP
" Embora a palavra Utopia só tenha sido cunhada a
partir da junção do advérbio grego ou com o substantivo topos por Thomas More
em dezembro de 1516, na ocasião da publicação de seu livro, o tema a que se
refere sempre foi rico de construções e alimenta a imaginação humana da
antiguidade até hoje. Na Antiguidade, há algumas obras sobre as quais passarei
a vista, tentando extrair semelhanças em conjunto com os três grandes clássicos
da Renascença. Quem se detém neste estudo logo percebe que a utopia é um tema
recorrente tanto no campo da filosofia – na esfera da crítica e teoria política
e social – quanto no campo da história, literatura e outros. O subterfúgio para
propor a existência de um estado ideal parte de dois motes principais: o primeiro
é a consciência do autor acerca de algumas injustiças, iniqüidades e
imperfeições de sua própria sociedade, o segundo é o desconhecido ou o
estranho, que existe em outro espaço indeterminado – como a Atlântida, a cidade
de Utopia, a cidade do Sol, a Nova Atlântida de Bacon – ou em algum tempo
diferente, assumindo assim a forma de lenda ou de profecia – como também é o
caso de Atlântida ou dos mitos milenaristas cristãos.
Os conhecimentos geográficos dos gregos eram limitados, como
sabemos, e isso possibilitou imaginar Atlântida além do Grande Oceano, das duas
colunas de Hércules do estreito de Gibraltar. Com as grandes navegações na
Renascença, o mundo volta a existir em sua vastidão indeterminada de outrora.
As façanhas e os relatos dos viajantes, e a descoberta de terras e povos
desconhecidos fermentam de novo a imaginação dos europeus, em particular dos
nossos três filósofos, More, Bacon e Campanella. Aliás, tais relatos
continuaram alimentando as gerações dos escritores nos séculos seguintes, como
se observa em parte do Cândido, de Voltaire, que conta a utopia de El Dourado;
ou nas Viagens de Gulliver; de Charles Swift, ou no Discurso sobre a origem da
desigualdade entre os homens de Rousseau; ou na utopia brasileira A cidade
Perdida, de Jerônimo Monteiro.
Porém, temos em tais obras e romances que contam relatos de
viagens duas vertentes distintas. No gênero utópico, o viajante chega,
freqüentemente saído das garras da morte, e é muitíssimo bem recebido pelo
estranho povo, não cessando então de admirar a nova forma de organização
social. Assim é Nova Atlântida de Bacon, onde o sentimento de inferioridade dos
europeus é extremo, e onde sua admiração pela magnitude do povo de Bensalém se
mostra em vários pontos. Na outra vertente, temos a figura do colonizador. O
colonizador traz consigo as virtudes de sua própria civilização, e impõe aos
povos bárbaros sua superioridade e valores. Tal é o caso, por exemplo, de Lord
Jim de Joseph Conrad ou de tantos outros, mais próximos da realidade."
(Miguel Lobato Duclós, continua no link)
http://www.consciencia.org/utopia.shtmlutopia.shtml
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