Nei Duclós
Toca o sino ao longe. Num outro
tempo.
Poesia não tira pedaço. Só junta
corpo no mesmo abraço. Distribui o sonho nos intervalos do rolo. Peita o mal só
com a palavra.
Somos o que você imagina. Esse teatro em peça íntima.
Digo qualquer coisa para te convencer. Só quando desisto me
dás colher.
Teu coração se perdeu no deserto. Por isso dizes que não
existe.
Provas porções de mim e desaprovas. Junto os pedaços na Lua
nova.
És perfeita porque a arte não existe mais. Fica a memória,
grudada em nós.
Me varres para fora do farol e apagas a luz. Fico só no
horizonte do mar.
A Lua emite o brilho que escondi. Sou o lado escuro de ti.
Impossível representar o sentimento.
Sempre falta algo, coração que sobra.
De vez em quando me dizes. É quando
pulo na cachoeira.
Submerja comigo, escama sonâmbula.
Pinte no coral onde o amor se banha.
Roupa é a pele, com ela nos
encontramos no mundo. A pele mesmo é a perdição.
Tua graça é meu presente. Recebo com
o olhar ardendo.
Só de vez em quando te toco. Para
que não percas o hábito de tremer que me despertas
É feita de matéria escura a sensação
de espanto que experimento quando brilhas.
Estou dormindo. Você está me amando?
Hoje não teve serão contigo. Fiquei
na esquina, com um assobio perdido
Somes por encanto. Fico no mesmo
plano, te procurando.
Não falo em rendas porque ficas
desconfiada. Falo em poesia. Tecida em tua pele.
À meia noite estás com as defesas de
lado. Hora daquela falta de cuidado.
Precisamos
do excesso em tudo o que fazemos, para compensar a ausência eterna antes e
depois desta passagem.
Você deixa passar o verso mais
invasivo e disfarça nadando em águas prudentes. Mas há sempre um mergulho agendado
pelo teu corpo.
Diga oi para mim. Não dói.
Deitamos no campo de olho nas
estrelas. Somos cadentes de tanto abandono.
Virá aquele sentimento de querermos
alguma coisa, indefinível. Um beijo demorado, que dure um século. Ou algo
parecido.
Volta a chover. Chuva enxovalhada,
depois de nuvens de ameaça. Cortinas viram velas de navios. O vento quer te
molhar.
Não se assuste, estou de saída.
Podes me substituir, mas teu coração me espia.
Já ficamos. Depois fomos. Agora
estamos, já que não voltamos.
Na tua pesquisa sou traço. Mas
amplio o espectro do abraço para caber mais dados.
Voltas do verão com a pele em fogo.
Deitas em meu outono de branda chama. Dura mais, até o próximo milênio.
Não me vês, não precisa. Basta que
sinta.
Cedo estou no front, alma minha.
Cedes atenção, carta que chega limpa, borrada de coração.
Saber é cair em tua percepção
madura. Entender o mecanismo da diferença que nos conquista.
Duelamos com as palavras enquanto o
corpo espera. Foi um esbarrão que desencadeou essa faina.
Não devia recompor o que parece ser
para sempre disperso. Nada sabemos do que virá desse gesto que inaugura espaços.
É cedo para a poesia. É preciso
deixar que suma o desconforto das notícias.
Quis dizer de novo o que teu perfil
de flor e brinco me permitem. Mas já estavas dita, lírica armadilha.
ESPARSAS
Ninguém tira o que temos de mais
fundo.
Nunca mudamos o que nos faz inteiros.
Temos essa essência possível,
superfície que parece espuma,
que nos identifica e cruza qualquer tormenta.
Nunca mudamos o que nos faz inteiros.
Temos essa essência possível,
superfície que parece espuma,
que nos identifica e cruza qualquer tormenta.
- Por que és tão malvado? ela
perguntou.
- É a minha natureza, disse ele.
- E isso não tem cura?
- Só piora.
- É a minha natureza, disse ele.
- E isso não tem cura?
- Só piora.
Quando olhamos nossa imagem
em tempos de tristeza,
nos perguntamos por que às vezes
perdemos o senso de eternidade.
em tempos de tristeza,
nos perguntamos por que às vezes
perdemos o senso de eternidade.