Nei Duclós
Segue meus
passos por solidariedade
à solidão
que desfruto. Por mero capricho,
entre seus
inúmeros compromissos.
Concede
atenção a quem está só de passagem,
envolvido com míseros assuntos, da literatura
ao clima.
Como se fosse importante ler
o que
ninguém precisa. Mas saber-te vizinha
ao sono que
compartilho nesta rede anímica
já me serve
de consolo enquanto adivinho
a chance de
usufruir teu carisma, pois sei
o quanto
brilhas em remotas conferências
onde despejas
sabedoria sem mexer uma linha
do rosto,
levantando apenas a sobrancelha
Todos
apontam teus estribilhos e cantam contigo
algo além da
filosofia, o segredo de mecanismos
que incentivam
os pássaros a inventar o crepúsculo
ou a curva
das conchas quando viram fósseis
e são encontradas
por crianças num certo domingo
Jamais
chegarei perto do que compões com maestria
mas sinto
que buscas em mim algo que te falta
essa vocação
que eu tenho para o agarro súbito
essa firme
decisão de ser impiedoso contigo
e despertar
nuvens de tempestade onde há calmaria
Sou um fio
de água que se deposita sem sentido
em teus
musgos de rocha, montes lívidos de mel
grupos de
insetos sobrevoando a vinha. e as uvas
que amassas
com os pés enquanto urro, esturro
de fera
cevado em gruta já sem húmus, pois tudo
foi dedicado
à pintura das paredes, esses bisontes
cheios de
vilania, corças sendo flechadas pela Lua
RETORNO - Pintura na caverna de Altamira.