24 de setembro de 2013

A POESIA NOS REPRESENTA.



Nei Duclós

A palavra fugiu de casa, pegou a estrada, cruzou o mar oceano. Aportou no seu próprio sentido, imprestável por qualquer motivo. Lá a maré recolhe suas conchas quebradas .

Sou o poema que faço, que pertence ao Tempo, inventor de narrativas.

Quebro a pedra da palavra. Reparto o repasto da obra. Volto para a fonte fora da paisagem. Resta a letra torta, trilha rota no paredão concreto.

Passas lotada pelo poema. Bem feito para quem te ama.

Estou impermeável a significados. Pesquiso a palavra mas retenho a dúvida.Prefiro a charada, que é o segredo jamais revelado,do que a ilusão


O amor é o desenho que fazemos da eternidade.


Cada momento é um abismo. Depois não lembro do mergulho. Releve minha memória seletiva. Só guardo a flor debruçada no penhasco.

Sou direto: te quero. Digo no bate pronto, bem antes. Prefiro a palavra forte, rascante. Aposto sempre na sorte, acordes. Preferes quando sou trova, gigante.

Como não vejo, lembro. Assim componho a cena que se esfuma. Presente na ilusão dos minutos.

Não temos mais o que nos dizer. Nos resta esse olhar devotado na esperança de o amor amanhecer.

O tempo de repente puxa o freio de mão e o dia trava, fustigado pela garoa. Nessa parada caem em cima as lembranças, como línguas de fogo sob o céu sem rosto.

Dá um troço quando entramos na noite. Nos eletrizamos, fartos do mundo

Quando enfim chegamos a um acordo sobre nós mesmos, já somos outra pessoa.