6 de setembro de 2013

VÉSPERA DE PÁTRIA

Nei Duclós

Foi o ferro, a pólvora, a flecha
que empunharam a pena
a lei feita no garrote
a morte no gado e na cana
a torre da igreja no morro
exércitos mestiços no esporro
a genética da nau e das bandeiras

Tudo desaguou na pátria
fruto de um grito monarca
e de adventícios embarcados
nas águas indígenas
de mar ignoto
Cascatas cruzadas a pé
desertos que defloram
e cidades nascidas à revelia
em cais de sangue e trilhas soltas
o mistério sob a moto serra

Brasil não é para os fracos
para meninos poetas
é antes para a caça e a pesca
e o barro das florestas
escárnio nas rodas de mate
e um potro xucro a ser domado
País que não se submete
ao garrote ou a uma ideia
paixão com dor escrava

Espada no sabre, lemos a fala
os ancestrais emudecem
e somos ocultas batalhas
Temos dó da normalidade
Nascemos no Outro Lado
lenda de vasto território
Coma conosco a refeição à mesa
sirva-se da nação selvagem
arroste esse talento insuportável


RETORNO - Imagem desta edição: Batalha de Guararapes, obra de Victor Meirelles.