Nei Duclós
Ó Leste, és o que resta de nós
no mundo estéril
tuas sementes de luz revestem
o rosto sem glória
que enfrenta o recesso da vastidão
em território pobre
Voltas do cosmo onde cultivas
o plantio eterno
colheita de uma nova espécie
seiva da geração
que vingará no tempo escasso
espessa sebe
Te chamam Sol, mas és o espaço
do coração liberto
o que medra na mesma solidão
do nosso deserto
és o pulo da manhã que força
a régua da coragem
Anel de ferro, coroa pétrea
arrastas uma estrela
em direção a Andrômeda
imaginada por esporos
Tua existência física é o fôlego
de um deus gélido
Viajo de carona em tua carruagem
que cega pelo excesso
falta o que sobra em tua margem
limite de fogo
és a Luz que suga a si própria
e rega o verbo
Te inventas em conflito, sóbrio
lição de fonte
gastas o que jamais nos foge
ouro do espólio
basta nos abandonar no rastro
de ilimitado espectro
RETORNO - Imagem desta edição: obra de Van Gogh