2 de julho de 2013

LENÇO DE VIAGEM



Nei Duclós

Tardei porque viajei em vales de neblina. Lá encontrei o lenço que enxuga teus olhos, desespero de esperas.

Noto que me parto quando fico longe. Mas ao mesmo tempo me liberto. Volto fazendo falta, flor pendente no penhasco.

Tão próxima que deixa de ser sonho. Tão real que o frio nos abandona

Você inteira em minha pele, flor.

Economizei o dia para te dizer eu te amo na hora do crepúsculo.

Perdi teu número entre os cadernos. Assim mesmo ligo. Atendes do inverno.

Troco todas as palavras por duas mãos que se unem com suor e coração aos pulos. Esse curto circuito de espantos.

O que fazes do amor, arte que se aperta? Jogas ao céu, andorinha sem asas?

Sei que não há saudade, apenas um roçar de pernas sobre o nosso banco. Eu escuto a mil quilômetros, duquesa sonâmbula.


Curei-me da tua distância. Lavei-me em estradas de mel.

Estive fora. Fui visitar o nascer do sol. Bola de luz avermelhando o mar. Meu olhar passageiro fisgou-a por trás da cidade dispersa entre prédios lavados de sal.

Te peguei de surpresa. Nem tiveste tempo de fingir que não.

É um abraço guardado na gaveta da memória, que não existiu, mas poderia ter sido. Longo e, parece, eterno, pois sempre volta nas horas mais impróprias.

Você tão pensativa, pulsa o coração onde não deveria.

O dia foi salvo pela tua alegria. Palavras comuns, como doçura e delícia, ocupam o lugar que nos pluga.

Melhorei. Mas o inverno estava pior

Pensei, pensei. Aí dormi. Quando acordei, os pensamentos estavam rolando pela calçada, perseguidos por cachorros sem dono.

Tentei sair do amor, como se sai de um calabouço. Mas o que está fora é a verdadeira prisão e de lá te enxergo quando te lanças sobre o abismo

Te levei para um trem cruzando o deserto. De lá vimos a Lua pipocar no horizonte

Chamo de amor o que vês distraída. Não notas o calor que sobe das enchentes internas.

Soprei enquanto estavas completa. Depois vi cada pluma tua dominar meu verso.
 
Puxei teu coração até a borda. Ele ainda respirava.