15 de julho de 2013

COMO CASA ANTIGA



Nei Duclós

Como casa antiga, batemos
as portas quando há vento
expressamos pelas frestas
a sinfonia do sentimento
filtramos a luz da tormenta
em nossas venezianas
e tudo range, ossos de sonho
hábitos de cerâmica

Em telha de vidro improvisamos
uma janela para as estrelas
trincada por força dos ramos
na dança de jardins suspensos
Gritos se parecem com outono
recolhido pelos cantos
e o inverno supre as doses
necessárias de veneno

A Lua passeia impune no sótão
busca a prata que guardamos
e o sol se põe em lençóis brancos
que cobrem móveis de mogno
Somos fantasmas de outro tempo
anunciação do fim, obsedamos
Espelhos encardidos confirmam
nossa vocação de espantos


 RETORNO -  Imagem desta edição: obra de John Constable.