8 de julho de 2013

MEL E PÚRPURA



Nei Duclós

Volta que eu te conto um segredo.

Se houvesse só palavras eu moraria em tua boca de mel e púrpura.

Ninguém mais, flor do abismo. Só tu.

Mudar é ficar mudo, deixar de ser xucro e focar no teu carinho.

Ninguém sabe, nem tu. Tens uma pétala grudada na dobra da doçura.

Pensavas em mim quando a câmara capturou teu olho. E se isso não for verdade, pensas em mim agora, ânfora de sonhos.

Cada palavra no devido lugar de nuvem: grudada em tua pele de suor e ferrugem.

Gostas tanto que escorregas, lisa de vontades.

Amor jogado fora em nome da razão. Melhor perder a hora e achar o coração. Desculpe a rima pobre de um trovador.

Me jogaste água fria quando eu precisava de auxílio. Borde um gesto de floresta no deserto da minha cena.

Me salvaste de um naufrágio mas me puseste de isca. Querias uma outra vida e eu te levei até a China. Lá viraste especialista de mapas de amor perdido.e

Vieste no dia seguinte quando eu boiava entre as ilhas.

Começo quando terminas, enredo na luz tardia.

Camuflei meu sentimento mas farejaste o submisso.

Contigo caminho em círculos, esfera de falsas trilhas.

Não gostas quando te inspiro, mas por que me tens cativo?

Ficas distante no íntimo, mas na aparência te exibes.

Não permites que eu respire, arquiteta de espinhos.

Implicas com meu cadarço. Me atiras o teu sapato.

Em tudo me contrarias. Sou teu roteiro de equívocos.

Não tenho novidades. Meu comboio de badulaques caiu no desfiladeiro. Fiquei apenas com essa sobrevivência meio torta impregnada de areia.

A idade põe em pratos sujos a louça do tempo.



RETORNO - Imagem desta edição: Marilyn Monroe.