Nei Duclós
Volta que eu te conto um segredo.
Se houvesse só palavras eu moraria
em tua boca de mel e púrpura.
Ninguém mais, flor do abismo. Só tu.
Mudar é ficar mudo, deixar de ser
xucro e focar no teu carinho.
Ninguém
sabe, nem tu. Tens uma pétala grudada na dobra da doçura.
Pensavas em mim quando a câmara
capturou teu olho. E se isso não for verdade, pensas em mim agora, ânfora de
sonhos.
Cada palavra no devido lugar de
nuvem: grudada em tua pele de suor e ferrugem.
Gostas tanto que escorregas, lisa de
vontades.
Amor jogado fora em nome da razão.
Melhor perder a hora e achar o coração. Desculpe a rima pobre de um trovador.
Me jogaste água fria quando eu
precisava de auxílio. Borde um gesto de floresta no deserto da minha cena.
Me salvaste de um naufrágio mas me
puseste de isca. Querias uma outra vida e eu te levei até a China. Lá viraste
especialista de mapas de amor perdido.e
Vieste no dia seguinte quando eu
boiava entre as ilhas.
Começo quando terminas, enredo na
luz tardia.
Camuflei meu sentimento mas
farejaste o submisso.
Contigo caminho em círculos, esfera
de falsas trilhas.
Não
gostas quando te inspiro, mas por que me tens cativo?
Ficas distante no íntimo, mas na
aparência te exibes.
Não permites que eu respire,
arquiteta de espinhos.
Implicas com meu cadarço. Me atiras
o teu sapato.
Em tudo me contrarias. Sou teu
roteiro de equívocos.
Não tenho novidades. Meu comboio de
badulaques caiu no desfiladeiro. Fiquei apenas com essa sobrevivência meio
torta impregnada de areia.
A idade põe em pratos sujos a louça
do tempo.
RETORNO - Imagem desta edição: Marilyn Monroe.