11 de dezembro de 2012

O POEMA ENTRE O ENIGMA E O ABISMO




Agora em e-book, PAMPABISMO/ENIGMINAS: CONVERSOS, um livro que opõe e tenta transcender dois mitos regionais e o drama que ele desdobra: Não é permitido viver quando o país é o assassino procurado. 
Para adquirir o livro (81 pgs., R$ 30) escreva para neiduclos@gmail.com.



Nei Duclós

A sintonia histórica, e ao mesmo tempo forjada numa revisita poética, entre dois mitos regionais – Minas Gerais e Rio Grande do Sul– é o enlace do meu livro PAMPABISMO/ ENIGMINAS: CONVERSOS, um dos cinco finalistas do prêmio Açorianos de Criação Literária/Poesia  de 2012. É a interlocução de dois mitos regionais á luz da Poesia e da História, e sua transcendência pó meio da consciente escassez do verbo. O poeta é um estrangeiro nos dois mundos que se atraem, conversam e se chocam. Seu objetivo é atingir o território além do conflito, com a percepção dos limites impostos por narrativas da literatura e das ciências humanas, mas ultrapassando essas margens por meio dos recursos da linguagem.

Todo escrito em mínimos sonetos (as tradicionais 14 linhas afinadas até o osso), cada um intitulado com a última palavra do poema, o livro foi estruturado em três capítulos que funcionam como um ABC da narrativa. Construído de fora para dentro, dentro das lições cabralinas, e piuxando águas profundas de Drummond, o livro recupera a impossibilidade de se atingir o núcleo do drama quando o projeto é tão ambicioso. A linhagem poética nobre trabalha a favor do vento que o livro procura desencadear. Mas ele tem voo próprio e, ao se perder na voragem do abismo, encontra o equilíbrio do voo desdobrado entre a tradição e a transgressão.

O capítulo A é Enigminas, o que o poema não decifra e devora na busca por uma sintonia. O capítulo B é Pampabismo, idêntico no desafio de ser desconhecido por quem o aborda. O Capítulo C é Conversos, a conversão dos mitos em conflitos num entendimento que supere suas origens e encontre no verbo sua realização. A poesia assim busca a nação que existe dentro da outra, quer enxergar o perfil da diversidade histórica e buscar a conversão que não contradiga o mito, mas o enriqueça.  

A seguir, alguns poemas e versos que ajudam a esclarecer esta breve apresentação.

ARABESCO

Minas, desconheço.
Abismo infinito
como a queda
de um lenço

ou de uma bandeira
(que jamais chega ao
chão do árcade ou
do itabirano veio).

Minas, não me prendo
ao que de voz empresta
ao poema, ao som a mil

ou ao soneto, que
se perde ao saltar do
parapeito em arabesco



MARIOSKAS

Eu atendo, mesmo que isto
Custe a identidade e me torne
Forasteiro exilado em sua casa
Não preciso de pão, mas da graça

Que é abraçar uma idéia que se
Esgarça e nenhuma inspiração
Dá conta, mesmo que venha
Amparada por címbalos e pombas

Não se anuncia quando alguém
Desiste de si e tenta encontrar
O que lhe falta. Talvez o bruto

Caminhar de uma nação dentro
Da outra. Como se o país fosse
Uma Pandora de marioskas


 ACENOS

Terra de mulheres
homens de vento
literário continente
Centro e sul de Homeros

a união entre o árcade
e o trovador, fim
do confinamento
pampa como ponte

e Minas, horizonte
confluem no poema
conversos militantes

Abrir mão da natureza
para enxergar o Outro
espelho de acenos



TORMENTO

Mas a maior distância
é o Tempo, o que apaga
as mãos ainda quentes
e desce a espada

Não há reconhecimento
só o apego ao nicho
que manobra o rosto
Fio de desconfiança

O poeta elabora
a costura do sangue
não o que vigora

mas o de sempre
fruto da Criação
e do tormento


PROCURADO

Pois é de um crime que eu falo
Numa taberna marcaram
meu passo com as cruzes
da emboscada. Quando desci

para a festa, um punhal recebeu
a ordem de me devolver
Para onde tinha vindo. Do lugar
que escapei. Fiz minha trégua

Mas tudo acaba, mesmo quando
é apenas poesia nossa guarda
Mesmo que exista apenas a

palavra dita num tom baixo
Não é permitido viver quando
o país é o assassino procurado

(Todos os sonetos acima são de autoria de Nei Duclós)


 

RETORNO -  Dos cinco finalistas selecionados entre 61 participantes, todos com livros inéditos de poesia,  um foi vencedor: Entrechos Ou Valas Do Silêncio, de Guto Leite. Os finalistas foram conhecidos dia 1 de novembro de 2012.