9 de dezembro de 2012

SERENATA



Nei Duclós

Não se esforce tanto em provar que trabalha e está muito ocupada. Não sinta culpa pela sua extrema formosura.

Não vou ficar calado enquanto te ocupas. Vou fazer barulho na tua janela. Serenata de um coração na miséria.

Cada vez mais linda, uma hora explode como supernova. Vai abastecer o cosmo com os respingos da tua glória.

Não vês o tempo passar, envolvida em mil agendas. Deixaste a meu cargo fazer sala para a tua ausência.

Quando cansares de fingir tanta correria, descanse em meu ombro, princesa. Veja cair os esporos de plantas tontas de perfume.

Terceirizamos tarefas coadjuvantes e nos envolvemos na essência: tua consultoria full time sobre como devemos suportar tua beleza.

Dez dias antes de tua palestra, formavam-se aglomerações de desesperos na frente da sala. Todos queriam ver a deusa, mas só os eleitos puderam compartilhar o privilégio. O assunto era comércio exterior entre o Brasil e a Indonésia.

Não tens alunos nem platéia, tens fila de gargarejo. Quem se importa com o power point se tua voz sugere delírios?

Te colocam no front não apenas porque és competente, mas também para ver como caminhas apressada com esse corpo de outro mundo.

Quando cansares de fingir tanta correria, descanse em meu ombro, princesa. Veja cair os esporos de plantas tontas de perfume.

Reservei um trono para a tua realeza. Poderás exercer o poder de tanta beleza, longe desses cursos sobre o Mesmo.

Não deixas sobrar nenhum tempo porque assim te livras de encarar a tua divindade frente ao espelho. Não me convences com teu lufa lufa correto. Ceda, batom vermelho.

A beleza feminina, única fonte legítima da majestade, é manifestação bizarra de uma natureza envolvida com outras coisas. Uma excentricidade que faz da beldade sua maior vítima.

Ficaste com vergonha depois daquela noite. Não que haja arrependimento. É pura reação diante do arraso.


RETORNO - Imagem desta edição: Marilyn Monroe.