Nei Duclós
O historiador britânico marxista Christopher Hill nos ensina
que o termo república não significa apenas o sistema republicano, mas, como na
sua origem se refere aos negócios públicos, também serve para a monarquia. Se
levarmos em conta a monarquia inglesa depois das décadas revolucionárias de
1640 a 1680, quando os ingleses intauraram a monarquia parlamentarista depois
de defenestrar e enforcar um rei e recuar para uma restauração da coroa,
podemos entender melhor esse conceito que, como tudo em História, é complicado.
Terminei de ler O Mundo de Ponta Cabeça - Idéias radicais
durante a Revolução Inglesa de 1640 (Cia das Letras, 1987, trad. de Renato
Janine Ribeiro), que reúne revelações importantes sobre as seitas que medraram
na insurgência contra todas as igrejas, católica, anglicana e presbiteriana,
contra os fidalgos, os dízimos, os proprietários de terras, os burocratas, os
letrados etc. numa manifestação popular das profissões mais simples, os que
pegavam a mão na massa e se tornaram, com a desestabilização social provocado
pela guerra, em figuras itinerantes a pregar blasfêmias contras as Escrituras,
Cristo, a nobreza, o clero etc.
As seitas era inúmeras: os diggers, que cavavam as terras
devolutas para lavrar sem a licença do governo, os levelers, que queriam
nivelar todos, os ranters, que blasfemavam radicalmente, além dos quackers, que
acabaram recuando e se tornando mais prudentes e longevos. Alguns faziam cultos
em cervejarias e praticavam o amor livre e deixavam os loucos anos 20 ou dos
anos 60 no século 20 no chinelo. É forte a influência desse movimento
periférico que não foi devidamente estudado - até Hill - pela historiografia e
que deixou marcas na política, na filosofia, na imprensa, nas religiões, na
literatura, atingindo diretamente as obras de grandes autores como William
Blake e Milton.
Bastidores de guerras são sempre importantes para
entendermos melhor os eventos históricos, fora do cânone em que se colocam os
fatos para que esteja apropriados aos aparelhamentos políticos contemporâneos.
A monarquia constitucional foi adotada por Dom Pedro I, que levou essa ideia a
partir do Brasil para as guerras contra seu irmão Miguel em Portugal, onde
virou Dom Pedro IV.
Dom Pedro se aconselhava com um general holandês que fora braço
direito de Napoleão e estava no exílio no Rio desde a derrotada do Imperador.
Conto isso no meu livro Tudo o que pisa deixa rastro, de 2015, uma ficção com
bibliografia, fruto de 20 anos de pesquisa e que avança para outras guerras
brasileiras, desde a da Independência, até a de 1924, a de 1930 etc.É bom ler
sobre esses eventos e ampliar nossa percepção do que pegou no passado e
continua agindo sobre nós.
Nei Duclós
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