9 de novembro de 2017

SAARA



Nei Duclós

Trabalhar o poema até o osso
para que pareça espontâneo
mas vá além da contingência
mostre experiência ainda moço

Cercar o gado sem marcá-lo
no ferro da própria usura
Deixá-lo solto sobre a erva
que paste a flor ainda madura

Rimas quando for preciso
estilhaçar os sons de vidro
Recuperar o que foi gasto
Impor a obra ao desperdício

Eis o ofício como entendo
palavra que não sei ao certo
mas de outros laços sou liberto
componho o caos como um artífice

De longe brilha sem ser ouro
de perto pulsa como a pele
venha ao sopro que ele exala
na mesma fala em que trafegas

Com a diferença que não sabes
porque por nada ele te amarra
É o velho truque que dominas
e que retorna à tua casa

Seduz a fada sendo bruto
molha, aqueduto, o teu Saara


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