5 de novembro de 2017

O ACORDO DAS PALAVRAS



Nei Duclós

A violência física é provocada pela violência verbal. A linguagem sintonizada com a paz vem da virtude, que é a sobriedade e a concentração anulando o desperdício de vidas. Não se trata de pensar antes de falar, mas de prestar atenção ao sentimento que provoca a fala. Se a raiva for detectada a tempo, não haverá motivos para o remorso.

Não é a letra do acordo que promove a paz, mas o espírito de concórdia que anima quem assina embaixo.

Transgressão só existe em relação a algo a ser transgredido. Chutar o balde quando não há mais balde é chutar o ar.

Não considero uma única vida suficiente para exercer o ensino. Deveriamos viver mil anos por vez para nos derradeiros séculos ocupar a orientação numa sala de aula. Por isso fico admirado com professores muito moços de áreas complexas do conhecimento. Certamente trazem sua segurança de outras vidas.

Quem sabe é porque aprendeu. E ensina a quem quiser  dos segredos e mecanismos que fazem do aprendizado um ofício em permanente mutação, comum a todos.

Literatura é arte para expor o que está entranhado no corpo como o ponto focal de uma véspera de big bang. E para exercer o talento, essa herança espiritual misteriosa que vem do berço ou se manifesta estimulada pela vivência.

Emitir um conceito não é ser definitivo. É a tentativa louvável da síntese, com a menor margem de erro possível.

Ideias confusas são um pedido de socorro. Não para o salvacionismo do momento, mas por estimular a clareza da percepção, salva vidas de todos nós, que nos afogamos.

- O sr. fica arando o mar. O que espera colher com isso, capitão?
- Planto florestas de sal, disse Jack o Marujo. É o único jeito de barrar as tempestades.

- Não gosto da sua filosofia barata, capitão.
- Não é barata, é de graça. Você não paga nada para se aborrecer com ela, disse Jack o Marujo.


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