Nei Duclós
Toque meu coração sem medo. Veja meu gesto incandescente, o mesmo teu,
par de tempestades. Inaugure a estação, a que forja flor no esporro.
A poesia como força da terra, aqui presente antes de todos os descobrimentos.
Feito calcário em forma de taça gigante no deserto.
Somos sobreviventes. Longevos, como sementes em território minado de
desesperança. Brotos silentes, armados de confiança. Sonha, amor ausente
Não ter vergonha dos princípios, desmoralizados por nossa falta de
fôlego. Repor o fogo onde mais faz falta: aqui dentro, alma valente.
Não vamos desistir diante da covardia extrema, a que nos pune, confiante
de que a sua natureza é extensiva a todos os contemporâneos.
Precisamos estar à altura do momento, com a força inteira,
transcendendo. Domínio da linguagem como instrumento. Lucidez como a
determinação no remo.
RETORNO - Imagem desta edição: foto de Marga Cendón.