Nei Duclós
Estava acordado quando você me sonhou.
Desista do jogo, o amor sempre vence.
Não quero que me avises. Não precisa. Teu perfume é o gatilho.
Amor, tinha esquecido. Lembrei, amor antigo. Voltei, estou contigo.
Fique perto. Poesia é quando desistimos de viver no deserto.
Vou me esconder para saber o que você acha de mim.
Nem se dá conta da sua beleza. Acha que exagero. Nem chego aos pés,
graça plena.
Ainda é cedo na tarde, mas já pus palavras na fila do poente. Quando
chegar o fim do expediente teu comando apagará o incêndio
O poema está exausto, na beira do poço. Pediu água, o meliante.
Viver é essa perda maravilhosa de tempo.
Minha saudade de ti é um vazio estelar. Infinito.
Agora volto ao amor, que o amor
salva. Nos tira do sinistro território.
Nego o flagrante. Sou uma versão ambulante.
A Lua acostou-se no horizonte, seu leito de insone, e ficou sob a
lâmpada de Vênus na noite inventada pelo sábado recente.
Tire do amor o peso morto.
Finges inocência depois do escândalo. Vou aprontar bastante para ver
se te amanso.
SELETA
Escrevo por parábolas. Recitas na praça, arrulho de pombas.
Voltaste com teu acervo de toques. Depois de me derrubar me deixa,
porque teu destino é a distância.
Estou precisando. Sele um beijo numa carta e me mande. Quando eu
abrir, sentirás meus lábios de longe.
Teus lábios próximos demais com vocação de beijo. Sou o que treme.
Não me leia, disse ela. Ainda estou me arrumando.
Faça o favor de vir, viração, fonte de conflitos. Venha, batom e
cílios.