29 de outubro de 2013

AREIA MOLHADA



Nei Duclós

Estou pertinho de não ser mais nada. Assim como gota d´água, grão de areia molhada.

O amor que me dedicam ultrapassa meu limite está além do que vivo. Faço parte das estrelas
quebrei o teto de vidro

Pétalas no teu rosto, sonho aqui de longe.

Sabes o quanto de flor tens para o banho de espuma do meu olhar.

Levantei cedo para desperdiçar mais tempo. Assim acumulo mais vida do que gastei contigo.

O poema faz parte do amor por ser livre.

Enquanto você dorme, o amor trabalha, gerando teias de ouro entre inúmeros sonhos.

Em todas as vidas paralelas, és minha amiga. Só numa delas somos amantes. Nessa, quero ficar para sempre.

Você é o amor que eu escondo no meu casaco de couro

Me tens como a neblina não é clara. Como a brisa bate o joelho. Como o luar em teu seio.


DESPEJO

Amor é o habite-se. Adeus, o despejo

Dancei na tua mão. Fiz teu jogo. Agora pago o mico da relação.

É público e notório: amar é insuportável.Única coisa não descartável neste mundo provisório.

.Não cansaste de mim, mas sim do que esperavas de mim por motivos misteriosos.

É dificil acostumar-se de novo à solidão, incômoda arena. Ali o coração não cabe, a emoção se perde.

Nunca aprendemos a lição pois o amor é uma criatura sem vínculos com a realidade. Amadurecer significa perdê-lo na lucidez covarde

O erro foi carregar a cinza inevitável do sentimento que completou seu ciclo e misturou-se à terra. Era preciso deixá-lo ir, no vento ou em direção à futura árvore.

Fomos amor só por um instante. Depois morremos, liquidados pelo clarão insuportável.

Me descobriste prisioneiro num espaço que parecia liberdade. Não suportaste a humana revelação da verdade.

Inventaste um lugar onde só cabia teu sonho. O amor ficou de fora.

Foste embora para sentir de novo o gosto de voltar. Mas a cidade tinha sumido.


VERMELHO

Outubro é vermelho. Não se muda a natureza das coisas.

Pensa que nasci ontem. Nasci hoje, penso.
Não autorizo nenhuma biografia sobre mim, disse Al Capone

Em cada um convive o carisma e o prosaico. Vasos comunicantes e quebráveis.