4 de outubro de 2013

ACENDA A LUZ



Nei Duclós

Não gosto do escuro. Acenda a luz, diurna.

Sozinha, és mais linda. Te imagino comigo.

Passei o dia meio de lado. Era tua ausência que pesava.

Homem quer saber muito, mulher quer saber tudo.

Seu verso está de pé quebrado, disse o ortopedista.

- É grave doutor? perguntou o poeta.
- Contraiste a doença do soneto, disse o médico. Vou receitar poemas sem palavras.

Te releio para lembrar o início e porque tenho esperança de um novo desfecho.

Descansei de ti na sombra da saudade.

Não sou romântico, isso não existe. Fiquei louco, é diferente. Insana diferença, teu corpo me machuca prazerosamente.

Não sou responsável pela profecia. A palavra me tem cativo. Sou apenas o arauto de uma melodia.

A toda hora me ocorrem frases surtáveis. Acho que existem esquinas astrais de pensamentos a esmo. Eles se enfileiram para encontrar eco.

Comédia é a outra face do drama. Você ri do tropeço alheio, da escassez do Outro. Ri de si mesmo, fonte de lágrima entre gargalhadas.

Não precisa de espelho, maquiar personagem. Basta tu mesma, nudez de verdades.

Somos marginais ao cânone, feito de poderes: togas, discursos, eventos, tudo passageiro. Somos conchas de fina areia: as ondas brincam com os caranguejos, receita do eterno.


RETORNO - Imagem desta edição: Jessica Biel.