17 de outubro de 2013

CORPO DE SEDA



Nei Duclós

Jogas água fria depois me frita. Me enxugo em teu corpo de seda.

Curto rostos, explícitos sonhos. Janelas para bem longe.

Perfeita em frente ao espelho, curtes tua beleza para me colocar de joelhos.

Mostras aos poucos o que tens inteira. Me derrubas, florada da serra.

Tão pequena mas cheia de estrondos. Broto de sons na planta efêmera.

Estamos no mesmo planeta. És a zona tórrida da esfera.

Não precisou dizer muito. Bastou roçar o sonho áspero em tua real leveza.

O poema é teu guarda costas, bate em quem disser o contrário. Se ocupa do perfil que teu ser projeta nas nuvens.

Por dentro e por fora: a beleza se sintoniza com o sentimento.

Suave perfil de mistério, me visitas sem que eu descubra quem te desenha, longínqua.

Não resista. Que me importa o frio. Quem manda deixar a janela aberta para a minha fantasia

Não tenho outro assunto. Puxo conversa só com teu sonho.

Perdi a embocadura do poema. Coincidiu com o exílio do teu beijo.

É tudo mentira tua, disse ela. Não sou tudo isso. Sim, disse ele. Não és toda essa mentira.

Aprendemos com o tempo: sem piedade. Única forma de amor depois que o mundo acaba.

Queria tu mas tu não tenho.


RETORNO -  Imagem desta edição: Marilyn Monroe.