9 de outubro de 2013

A POROROCA

Nei Duclós  
(poema escrito aos 11 anos de idade)

O Atlântico, oceano monstro
é meio bronco e às vezes tem paz
mas no tempo que ele se enfurece
não arrefece, nada deixa atrás

Nas raras vezes que está enfurecido
lança-se sempre contra o rei dos rios
quer tirar-lhe tudo, tirar-lhe as águas
quer levar-lhe aos Andes, nos países frios

O Amazonas com suas águas brutas
não teme as lutas nem tampouco o intruso
eu sou valente, sou brasileiro
que o espinheiro nunca recuso

O mar terrível lança-se com fúria
mandando injúrias com a sua voz
o estrondo é forte e os dois gigantes
com brados lancinantes, à batalha atroz

Então elevam-se a vários metros
luta sem cetros nem escudo e lança
são dois conjuntos d´águas enfurecidos
que com bramidos lutam e não se cansam

Então um deles vai se afastando
mandando águas para se defender
e o da água doce, que quer lutar
e do rei mar ele quer vencer

Mas o inimigo grande e poderoso
manda ao choroso sua força brutal
ele quer vencer o adversário
que não é páreo para fazer-lhe mal

E empurra esmaga e para longe leva
sem dar trégua sem ser clemente
fica a água doce muito salgada
e é levada para a sua nascente

Depois o vencedor a deixa
sem ter queixa do perdedor
é de novo o rei, ninguém disputa-lhe o trono
pois o antigo dono saiu vencedor


RETORNO - Poema escrito a partir das revelações das aulas de geografia, quando estava no quinto ano primário e tirava os primeiros lugares toda semana numa sala com 51 alunos. Guardo até hoje meus poemas da infância, e reproduzo aqui conforme a versão datilografada original, na minha clássica Smith Corona com letras cursivas, presente do meu pai. Deu um trabalhão danado, mas Castro Alves estava olhando.

Exausto, fui mostrar para minha leitora de primeira hora, Dona Rosinha, minha mãe: “Escrevi um poema sobre a pororoca”, eu disse, onisciente. “Mas acho que não vais entender, pois não sabes o que é pororoca”.

Minha mãe, ex-professora e funcionária pública, leitora aplicada de texto primoroso e bamba em literatura, achou graça do pedantismo do moleque remelento e caiu na gargalhada. Mas ficou bem impressionada e elogiou muito. Ou seja, quem foi elogiado pela própria mãe aos 11 anos de idade, já com dois anos de exercício poético nas costas – comecei aos 9 anos – nem precisa de fortuna crítica.

Nota-se no poema o cuidado com a gramática, apesar de alguns deslizes, que mantive conforme o original. Outra coisa que respeitei foi meu copy. Pois como este era meu poema mais importante, a toda hora revisitava, imaginando declamá-lo em praça pública, o que nunca ocorreu. Fiz então alguns acertos, mínimos, para aperfeiçoar o trabalho.

Que coisa. E não me internaram. Obrigado, pais.