Nei Duclós
Quando o poema é criança, brinca de sujar-se.
Venha tomar banho! lhe dizem, graves.
Ele ri, piscando para a Lua.
O poema adolescente atrai
o ranço romântico.
Ame, dizem, e ele sai correndo
Poema, quando maduro, vai morar longe.
Não manda cartas e volta depois
que o esqueceram.
O poema alcança a longa idade trocando as pernas.
Ele procura conhecer a oficina dos anjos,
que lhe sopraram por toda a vida.
Quando o poema parte, leva o poeta junto.
Vão para um sistema remoto de desertos,
exercer talentos na hidráulica e na álgebra.
Quando vires o poema, mande lembranças.
Diga que estou esperando aquele som comum
entre palavras adversárias
RETORNO – Imagem desta edição: eu e, na garupa, o
carismático Daniduc. Foto de Ida Duclós.