Nei Duclós
Não faço política partidária e evito ao máximo abordar
assuntos relacionados ao lugar onde moro, pois a Ilha de Santa Catarina tem
interlocutores de sobra que se aprofundam nos inúmeros temas que tomam conta
deste lugar, principalmente depois que virou moda e uma espécie de cult nacional
e internacional. Mas tem me ocorrido tantas coisas em relação à gestão
municipal que vou aproveitar a oportunidade da troca de comando para falar
sobre o que pode ser feito por aqui, principalmente a partir do pique do novo
alcaide, Cesar Souza Junior, que tem algumas qualidades, como o impulso da
mocidade e a vontade de acertar, já que precisa se impor pessoalmente e também
fazer bonito para que sua linha partidária (seja ela qual for, estou por fora) tenha
êxito.
Lembro que antes das eleições um repórter do Diário
Catarinense me telefonou me perguntando sobre o que deveria ser feito na área
da cultura na nova gestão. Eu deveria falar como votante em César Souza Junior,
mas não declarei meu voto e fechei-me em copas, o que foi um erro. Deveria ter
falado, independente de ser um apoio ou não. O que pesou mesmo é que a área
cultural, apesar de importante, não está nas minhas prioridades. Sou do tempo
da Viação e Obras Públicas, do Departamento de Limpeza Pública, do mosquiteiro
fardado que vinha inspecionar o mosquito em cada casa (e deixava uma ficha,
grudada na porta, assinada periodicamente). Sou filho de professora que
trabalhou muitos anos como Visitadora Sanitária do Centro de Saúde Municipal, espécie de para-medica que
fazia atendimento de vacinas e noções de higiene entre as populações carentes na minha cidade.Isso na era
Vargas, claro, a que foi desmontada.
Mas hoje os temas ganharam ainda mais intensidade. Gostei
que o novo prefeito cortou uma boa porção de cargos comissionados e não
permitiu que o dinheiro do IPTU fosse desviado para pagar dividas da
municipalidade que se despedia. Isso conta a seu favor, mas os desafios são
enormes e não basta pique e boa vontade. É preciso gestão estratégica, com
perdão do lugar comum, conhecimento e apoio de especialistas honestos. Para
começar, é necessário desmontar o esquema do transporte público na cidade,
transformá-lo em outra coisa, adaptá-lo para o novo perfil da cidade – inchado,
e não apenas na temporada.
O prefeito deveria encarar a grande desvantagem de assumir
na época do verão, quando as populações de todos os sistemas solares aportam
aqui, para trabalhar em cima do que se mostra escasso. É preciso preparar a
cidade para todo o ano atender como se estivesse em plena temporada. Pois não
pode é fazer os visitantes e moradores sofrerem com a falta de água, luz,
abastecimento, segurança, esperando que em março tudo volte ao normal. O normal
é essa maré alta. Assim deve ser vista a cidade. Ter um centro cultural, com
teatro, cinema e bilblioteca em cada bairro desta cidade dispersa e espalhada,
seria o mínimo na área de cultura. Para isso bastaria incentivar iniciativas que
já existem e sofrem com a falta de recursos. Dá pena ver a turistada passeando
na calçada sem atrações culturais, às voltas com miçangas e brincos e camisetas
e cervejas ou pastéis, sem um lugar para assistir uma peça de teatro, um
concerto. É tão óbvio montar uma estrutura que dure o ano todo e chegue ao
esplendor na temporada. Por que não fazem? Mistério.
No setor de transporte o prefeito deve apostar pesado nos trilhos modernos, trams
e VLTs, provados de sobra como perfeitos para o trânsito rápido, seguro e
eficiente na Europa, China, Japão. Liberar a população da tecnologio do século
19, o ônibus poluidor, barulhento, sufocante, caro e escasso, que leva milhares
de pessoas de seus bairros para lugar nenhum, os terminais que ficam no meio do
caminho. É de uma estupoidez tamanha o que vemos por aqui e chegamos a nos
perguntar: serve a quem esse esquema? Ou é só crueldade?
O saneamento básico deve enfim ser instalado na cidade.
Chega de fossas e limpa fossas, ou ainda estamos no século 18? Ao visitar a
ilha nos anos 60, minha mãe notou as marcas das doenças geradas pela falta de
saneamento nos rostos das pessoas. Ou se põe esgoto e tratamento de esgoto em
toda ilha ou afundaremos na merda. Utopia? Para mim utopia é ficar fazendo cera
quatro anos, preparando as novas eleições, aplacando a gula dos partidos e
políticos, sonegando informações, convivendo ou se aproveitando da corrupção.
Realidade é resolver tudo isso.
É preciso desmontar a corrupção principalmente nas
indústrias de licenças ambientais. Hoje se pode construir qualquer coisa em
qualquer área, basta chegar a um acordo. Acho frescura esse papo de meio
ambiente, pois o assunto verdadeiro é saneamento. Se você implanta um sistema
decente de saneamento, ganha o meio ambiente e a saúde da população. Não precisa
sustentar estruturas caras de papo furado sobre preservação enquanto a ilha é
destruída. Um morador do Rio previu, há cinco anos, que os morros verdes da
cidade iriam ser invadidos pelas favelas. Está acontecendo.
Ou o novo prefeito se preocupa em atender a população do que
há de mais urgente e necessário ou será apenas mais um. Falei demais? Costumo
fazer isso. “Pacência”, como dizia meu pai.