2 de janeiro de 2013

FLORIANÓPOLIS: AS CHANCES DO NOVO PREFEITO



Nei Duclós

Não faço política partidária e evito ao máximo abordar assuntos relacionados ao lugar onde moro, pois a Ilha de Santa Catarina tem interlocutores de sobra que se aprofundam nos inúmeros temas que tomam conta deste lugar, principalmente depois que virou moda e uma espécie de cult nacional e internacional. Mas tem me ocorrido tantas coisas em relação à gestão municipal que vou aproveitar a oportunidade da troca de comando para falar sobre o que pode ser feito por aqui, principalmente a partir do pique do novo alcaide, Cesar Souza Junior, que tem algumas qualidades, como o impulso da mocidade e a vontade de acertar, já que precisa se impor pessoalmente e também fazer bonito para que sua linha partidária (seja ela qual for, estou por fora) tenha êxito.

Lembro que antes das eleições um repórter do Diário Catarinense me telefonou me perguntando sobre o que deveria ser feito na área da cultura na nova gestão. Eu deveria falar como votante em César Souza Junior, mas não declarei meu voto e fechei-me em copas, o que foi um erro. Deveria ter falado, independente de ser um apoio ou não. O que pesou mesmo é que a área cultural, apesar de importante, não está nas minhas prioridades. Sou do tempo da Viação e Obras Públicas, do Departamento de Limpeza Pública, do mosquiteiro fardado que vinha inspecionar o mosquito em cada casa (e deixava uma ficha, grudada na porta, assinada periodicamente). Sou filho de professora que trabalhou muitos anos como Visitadora Sanitária do Centro de Saúde Municipal, espécie de para-medica que fazia atendimento de vacinas e noções de higiene entre as populações carentes na minha cidade.Isso na era Vargas, claro, a que foi desmontada.

Mas hoje os temas ganharam ainda mais intensidade. Gostei que o novo prefeito cortou uma boa porção de cargos comissionados e não permitiu que o dinheiro do IPTU fosse desviado para pagar dividas da municipalidade que se despedia. Isso conta a seu favor, mas os desafios são enormes e não basta pique e boa vontade. É preciso gestão estratégica, com perdão do lugar comum, conhecimento e apoio de especialistas honestos. Para começar, é necessário desmontar o esquema do transporte público na cidade, transformá-lo em outra coisa, adaptá-lo para o novo perfil da cidade – inchado, e não apenas na temporada.

O prefeito deveria encarar a grande desvantagem de assumir na época do verão, quando as populações de todos os sistemas solares aportam aqui, para trabalhar em cima do que se mostra escasso. É preciso preparar a cidade para todo o ano atender como se estivesse em plena temporada. Pois não pode é fazer os visitantes e moradores sofrerem com a falta de água, luz, abastecimento, segurança, esperando que em março tudo volte ao normal. O normal é essa maré alta. Assim deve ser vista a cidade. Ter um centro cultural, com teatro, cinema e bilblioteca em cada bairro desta cidade dispersa e espalhada, seria o mínimo na área de cultura. Para isso bastaria incentivar iniciativas que já existem e sofrem com a falta de recursos. Dá pena ver a turistada passeando na calçada sem atrações culturais, às voltas com miçangas e brincos e camisetas e cervejas ou pastéis, sem um lugar para assistir uma peça de teatro, um concerto. É tão óbvio montar uma estrutura que dure o ano todo e chegue ao esplendor na temporada. Por que não fazem? Mistério.

No setor de transporte o prefeito deve apostar pesado nos trilhos modernos, trams e VLTs, provados de sobra como perfeitos para o trânsito rápido, seguro e eficiente na Europa, China, Japão. Liberar a população da tecnologio do século 19, o ônibus poluidor, barulhento, sufocante, caro e escasso, que leva milhares de pessoas de seus bairros para lugar nenhum, os terminais que ficam no meio do caminho. É de uma estupoidez tamanha o que vemos por aqui e chegamos a nos perguntar: serve a quem esse esquema? Ou é só crueldade?

O saneamento básico deve enfim ser instalado na cidade. Chega de fossas e limpa fossas, ou ainda estamos no século 18? Ao visitar a ilha nos anos 60, minha mãe notou as marcas das doenças geradas pela falta de saneamento nos rostos das pessoas. Ou se põe esgoto e tratamento de esgoto em toda ilha ou afundaremos na merda. Utopia? Para mim utopia é ficar fazendo cera quatro anos, preparando as novas eleições, aplacando a gula dos partidos e políticos, sonegando informações, convivendo ou se aproveitando da corrupção. Realidade é resolver tudo isso.

É preciso desmontar a corrupção principalmente nas indústrias de licenças ambientais. Hoje se pode construir qualquer coisa em qualquer área, basta chegar a um acordo. Acho frescura esse papo de meio ambiente, pois o assunto verdadeiro é saneamento. Se você implanta um sistema decente de saneamento, ganha o meio ambiente e a saúde da população. Não precisa sustentar estruturas caras de papo furado sobre preservação enquanto a ilha é destruída. Um morador do Rio previu, há cinco anos, que os morros verdes da cidade iriam ser invadidos pelas favelas. Está acontecendo.

Ou o novo prefeito se preocupa em atender a população do que há de mais urgente e necessário ou será apenas mais um. Falei demais? Costumo fazer isso. “Pacência”, como dizia meu pai.