Nei Duclós
Insuportável quando te afastas. Abre
o apetite de devorar distâncias.
Se voltares de repente, prometo que
esqueço esse período de seca. Mas não estranhe se eu levantar a ponte do fosso
do castelo.
Tentar mandar uma mensagem não
adianta. Achas que pode, coração de pedra.
Não pense que está abafando. Eu
também sei dizer adeus, aprendi contigo.
A noite fica maior quando me deixas.
Medo que não mais amanheça.
Onde aprendi tudo isso? Daqueles
zóio azul de tocaia quando eu era apenas um pandorga.
Tanto fôlego que desconfias. Mas
posso ficar dias no mergulho. Não respiro quando fazemos exercício.
Tempestade de areia na sintonia. O
verão dispersa a iniciativa. Te guardas para o inverno, peregrina.
Ombros são rotas de navegação para o
toque cego que gosta de adivinhar cada detalhe da curva.
Ficas furiosa quando, às vezes, te
digo. Mas não escolho o verso mais amigo. Escrevo como quem parte para um duelo
Para onde vão nossas leituras quando
partimos para o Outro Lado? Boiam no vácuo, inertes? Alimentam pássaros?
Praça da alimentação, salão de
eventos: a vida é corporativa a não ser quando paras de falar e me encaras com
teu olhar certeiro.
O coração escorrega no contrapelo.
Sobe do flerte ao delírio, com palavras no meio.
Poesia não alimenta. É só a
sobremesa. Brisa nas costas do alvo perfeito.
Pousem em
mim, palavras que voaram.
RETORNO – Imagem desta edição:
Paulette Godard.