Nei Duclós
Passaste rápido para me dizer bom dia. Ganhei a eternidade.
Quando me visitas, belíssima, acredito na felicidade, que de
esperança vira realidade.
Só posso falar assim, em campo aberto. Onde nascem e morrem
as flores silvestres no passo da carruagem. És Afrodite na janela.
Não importa que não vejam tua grandeza no limitado espaço
que ainda te confina. Sobras, beldade, e isso é o que conta.
Depois que foste criada por acaso, Deus estudou tua forma
para inventar o dia claro.
Acredite que não é apenas sonho. Tua beleza é real, como os
azuis da manhã sem mácula.
A terra providencia a beleza, encanto para o olhar da
longevidade, alma de quem admira sem resguardo.
IMPACTO
Nosso sonho é fruto de um impacto: quando nos vimos enfim
depois de tentar nos esconder por milênios.
Enxergo diferente. Sou um farol que escolhe teu navegar em
noite de tormenta.
Vimos para o cais para receber os navios enxovalhados pela
noite de altas ondas e marés traiçoeiras. Todos estão salvos e nos acenam. Hora
de pés descalços e roupas ao vento.
Não se esconda porque te encontro no verso que não dá
sossego.
Não por ser sábado e o inverno mostrar um rosto mais ameno,
mas porque me deste o ar da tua graça é que me deito nesta grama de doçura
plena.
A prazerosa diferença de gênero é a invenção mais docemente
irremediável do nosso contentamento.
Aterrisas em mim como a nudez na terra, arrepio de gota de
chuva roçando pedra e mato ralo.
Toda palavra te agarra, corpo de deusa ...