Nei Duclós
Sábado frio de julho, a esperança fazendo barulho. Fresta abre
a janela sonora, é o vento forçando a conversa.
Está na palavra o que dizes para o cosmo. Não na memória, Tempo
de solidão na bruma.
As frases soltas são teus rebanhos sem grife. Tanto tipo de
gado, tanto brilho diverso.
O tempo é cíclico e me prende por fios de linho. Vi a saída
e tentei fugir, mas os espíritos não permitiram. Aguardo quando se distraírem.
Sem photoshop para atrapalhar, tudo fica melhor. A crua
verdade da possível delícia.
O que devo fazer
quando sinto vontade de derrubá-la? perguntou o aprendiz. Tudo o que consente, fala,
disse o Mestre.
Toda vez que dá certo eu chuto o balde. Será medo? perguntou
o aprendiz. O desamor não quer perder o trono, disse o Mestre.
Ela me chamou mas quando cheguei lá, calou-se. Qual é o
jogo? perguntou o aprendiz. É sua vez da entregar-se, disse o Mestre.
Tua mensagem volta. Assustada com a indiferença. Ela se
abriga em tua asa. Pulsa, chorosa. Lá ganha força para voar sozinha.
Tua imagem me derruba. Amassado, tento dizer algo, mas me
escapa. É quando te aproveitas, com essa expressão de trapaça.
Curava as compras por impulso levando os viciados para a
beira do abismo, de onde se descortinam os produtos mais finos.
Se queres tanto, porque apagas o que te fere fundo de
vontade e gosto?
Não sei o que dizer quando o vazio se descortina. Então
penso em ti, fonte legítima.
A criação é um mistério da natureza. O gatilho do Big Bang
não é nada perto da existência da bomba.
Despertas comigo fazendo o café do poema. Pão quente ainda
de sono, entusiasmo de menino.
RETORNO – Imagem desta edição: Ava Gardner.