Nei Duclós
Tapete de flor sobre a maresia: minha palavra te beijando a
boca.
Nem tudo pode ser dito. É preciso calar-se para que caibam
os beijos.
Deitaste como a pluma. Sem convicção de pouso, nem impulso
de voo. Faltava vento e o colchão era escuro.
Mergulha, flor flutuante. Arrisque a pétala onde a raiz se
aninha.
Corpo, âncora do sonho. Te toco e acaba o êxodo.
Arrepia no vento, pele de pêssego.
Inverno
quando fica ameno é tu que chega de cachecol vermelho.
Fazes
parte de mim como um coração que não tenho. E que fica ao lado do amor que
escondo.
Sabe quem somos? Planetas descobertos por adivinhação de
receptores acústicos. O espaço geme o que parece prazer, mas é socorro.
Não posso fingir que posso ficar longe. Então me aproximo,
sabendo que nossa chance é mínima.
Está frio demais, peregrina do abismo. Nossa queda livre,
que era sonho, machuca. Teremos mãos para cravá-las no penhasco?
Melhor fugir, é mais seguro. O mundo está cheio de
esconderijos. Tudo é melhor do que ficar exposto na planície, a sentir
felicidade, essa única motivação da vida.
Escolhia as palavras porque precisava conquistar-te.
Descobri que é impossível. És inexpugnável, coração aflito. Agora digo tudo.
Mas tudo isso é fruto do inverno. Bastará uma tarde de sol
para voltarmos à ativa.
RETORNO – Imagem desta edição: Liz Taylor.