9 de agosto de 2010

ANGELUS


Nei Duclós

A poesia tarda como um sino
Que no angelus pula de estação

Trinca longe o coração do trilho
Na curva perigosa de um vagão

Uma oração suspensa na neblina
Como no corredor um prato frio

Tímidos passos no piso de vidro
Quebrado aos pés da comunhão

Só eu sonho o templo adventício
Com o linho costurado a mão

Trago o brilho na vela da retina
A santidade flutua no porão

Subo até o pão do meu espírito
A palavra sente fome, eu não

Volto prisioneiro de um rabisco
Que palpita procurando um som

Véspera do poema, trem arisco
Que passa lotado como um cão


RETORNO - Imagem desta edição: foto de Daniel Duclós

Nenhum comentário:

Postar um comentário