5 de setembro de 2003

O GRANDE POETA OCULTO

O GRANDE POETA OCULTO

Apresento aqui o poeta Marco Celso Viola, que nos anos 60 cruzou comigo o Rio Grande do Sul no lombo de caronas inverossímeis e que me ensinou a ter coragem de expor a poesia na rua. Selecionei um dos poemas dele, que faz parte do seu livro que ainda está para ser editado. Entre tantos, Marco Celso Viola é, como poucos, poeta verdadeiro.

Os poetas não são deste mundo

Marco Celso Viola

Aqui onde você tem que fazer a coisa certa
Aqui onde você tem que saber de tudo...
este não é o mundo dos poetas
eles não são deste mundo, meu amigo
eles são de outro mundo, de outros mundos
eles caem por aqui como as estrelas cadentes
Aquelas estrelas que sem saber porque você cada vez que vê formula um pedido
são elas que trazem os poetas a este mundo.
Enquanto você acredita que não erra
só os poetas sabem que estão sempre errados, são estrelas errantes
quando todos sentem frio eles tremem de calor
quando todos riem eles sentem uma tristeza tão enorme que nada , mas nada
mesmo é capaz fazer com que ela desapareça.
É assim aquele poeta
apenas aqueles que são feitos da mesma música conseguem
sentir o que ele sente
rir sozinhos no escuro
caminhar em caminhos que ninguém conhece
beber o hidromel e todas as bebidas que bebem os que estão sozinhos.
Assim são os poetas
conversam com seres que ninguém vê e ainda olham para a lua, para a lua!
São desagradáveis ao tato e ao paladar.
Vire-lhe as costas.
Eles podem estar mentido
Não existe nada do que dizem, não confirmam nada do que dizem
Ora, lua, lua, lua,
O que significa isto?
Touros como rosas escuras espiam por entre as frestas do mundo para falar
com você, ele diz.
Isto não existe
Existe o que eu vivo e o que os outros pensam
Mas o amor , onde está o amor ?
Será apenas o sonho de um poeta que não sabe que é poeta?
Ele diz que você ainda vai sonhar como ele quando toda as palavras, não
conseguirem mais fazer sentido
Para finalizar, é preciso advertir estes seres que se dizem poetas: Cuidado!
Pense no caminho e que nunca , mas nunca mesmo pense que o poema é um ser
sozinho.
Assim são os poetas, têm palavras preferidas e vocabulário pequeno,
restrito, aliás, são seres assim, que pouca coisa os alimenta , um pouco de
vento, o ruído de uma asa de pássaro e talvez, só talvez, uma onda de mar,
talvez, também, quem sabe um seio, um olhar , ou mesmo os olhos daqueles que
passam na rua, porque eles sabem que neste mundo tem passagem estreita não
importa o quanto vivam, até porque o tempo não tem a mesma medida para eles
eles já vem com a saída garantida, a mesma estrela cadente se apresenta na partida, com um sorriso, um gesto, uma mentira, que só, mas só o poeta sabe o que significa.

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