8 de setembro de 2003

DIÁRIO DA FONTE

DIÁRIO DA FONTE

Pronto, criei este nome (que, até agora, não tem nenhuma ocorrência no Google) para dizer coisas aqui no blog, esse espaço quase solitário, que não ultrapassa os dez leitores diários – e isso não é charme, é a pura verdade demonstrada pelas estatísticas. Às vezes, dez é até um exagero, como aconteceu ontem, domingo, por exemplo, com o recorde de quatro visitas - e o que é pior, desconfio que foram as minhas.
Estou falando para mim mesmo, o que não é novidade.
A Internet é, antes de tudo, a mídia das fontes, ou seja, dispensa intermediários. Por isso esta estréia mundial do Diário da Fonte, para quem tiver paciência de ler. Prometo ser sempre muito breve. Quem comparar o nome com o Diário da Corte, do Paulo Francis, leva chumbo. Não vivo em Nova York, não faço parte da história do Brasil, sou um jornalista sem importância e, à parte isso, tenho todos os sonhos do mundo. Lá vai:

11 DE SETEMBRO DE 2001, UMA TERRÍVEL FARSA – Leio livro incrível com esse título, de autoria de Thierry Meyssan, publicado pela pequena Usina do Livro (editora@usinadolivro.com), ao custo de 24 reais o exemplar. O subtítulo é “Nenhum avião atingiu o Pentágono!”. O autor baseia-se exclusivamente em documentos da Casa Branca e do Departamento de Defesa dos EUA e em declarações oficiais. O fundamental do livro é que ele defende a tese de que o núcleo da direita americana foi quem armou tudo, para ter acesso às gigantescas verbas agora liberadas para a Defesa. Como não vi ninguém comentar o livro, levei um choque quando vi o dito exposto na livraria da Edusp na Faculdade de História.
E como nunca ouvi falar do autor, não posso fingir que o conheço desde criancinha (o que é comum no jornalismo posudo de hoje). Ele atualmente preside a Rede Voltaire e edita um boletim de inteligência política (www.reseauvoltaire.net), seja isso o que for.
Talvez todos já tenham ouvido falar do livro e esteja eu aqui chovendo no molhado. Não faz mal. Chovo. (Viu só, Rubinho, como dá para conjugar este verbo?). Att.: O Rubens Toledo é, à sua revelia, o revisor oficial deste blog. Isso não quer dizer que eu vá aceitar suas intervenções.

ANGELI, O EDITORIALISTA - O mais contundente, completo e criativo editorialista da Folha é o Angeli. Seu desenho de hoje, Deserto, em que uma multidão está no meio do nada em busca de um emprego de auxiliar de escritório, vale por um milhão de colunistas. O que mais gosto em Angeli, além de seu explosivo poder de síntese, fruto da sua lucidez política e de um exaustivo exercício (basta ver seu caderno de esboços, publicado em suas tiras) , é que ele veste o desenho, ele cuida de cada ponto, de cada traço com a seriedade dos grandes artistas. Angeli não precisa de elogios. Volto a chover.

POESIA DE SEGUNDA - Não vou citar nada nem ninguém, mas a quantidade de poesia ruim que está ganhando destaque na grande imprensa está me fazendo chorar. Será possível? Tem tanta gente boa para ser divulgada! Lembro a conversa que ouvimos aqui em casa quando entramos em contato com o pessoal de um prestigiado caderno cultural. Tentávamos cravar algo sobre meu livro No Mar, Veremos, editado pela Globo e com apresentação do Mario Chamie. Não deram a mínima pelota, justificando-se que tinham lá seus critérios e que recebiam livros demais. Meu Deus, mas é muita abobrinha que está saindo nos jornalões! Estão precisando de um ombudsman de poesia.

LARRY & JERRY – Imagine se os Beatles tivessem sido batizados de Lennon, o que seria do Paul? Pois foi o que aconteceu com Larry David, co-autor da série Seinfeld. Seu parceiro Jerry Seinfeld ganhou, claro, todos os créditos, pelo menos para o público. Agora o Larry saiu atrás do prejuízo, com sua maravilhosa série Curb your enthusiasm (Refreie seu entusiasmo), que vai ao ar todos os domingos às 22 horas pela HBO 1. Ontem, assistimos a uma hilária cena em que Larry (interpretando a si mesmo) defende o personagem George Constanza, que ele criou para a série Seinfeld, considerada a melhor de todos os tempos, contra os argumentos do ator que fez o personagem, Jason Alexander. Jason não entende que ele virou o George e agora é o George que procura, em vão, emprego na TV. Ninguém dá emprego para idiota (e, pelo visto, ninguém dá emprego para mais ninguém).
Hoje vivemos o esplendor dos sitcoms. Nos anos 60, o esplendor foi o da música. Agora (dos anos 90 para cá) , é o da comédia televisiva americana. Neste último fim de semana, houve uma overdose de Seinfeld na Sony. Eu já tinha visto todos, mas revi alguns, como o clássico episódio do livro Trópico de Câncer, em que um impagável bibliotecário vai atrás de um exemplar que Jerry não tinha devolvido desde 1971. Absolutamente magnífico.

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