24 de setembro de 2003

O PODER DA IMAGINAÇÃO


Os que sonham acordados mudam pelo menos as próprias vidas. Parece sub-literatura de auto-ajuda, mas não é. Projetar na mente a viabilização do seu trabalho no veículo ideal, com as pessoas que você admira, pode concretizar sua vontade quando você menos espera. São necessárias algumas posturas básicas: confiar no próprio taco, acreditar que a oportunidade vai chegar, preparar-se e exercer o otimismo como fonte de mudanças.

ALEGRIA – Quem me deu a pauta da coluna de hoje foi o responsável pelo excelente http://www.circodoabsurdo.blogger.com.br/ e que se assina Palhaço. Com o seu comentário sobre a fé que tem no jornalismo brasileiro, notei que, ao fazer um diagnóstico sobre o trabalho autoral na imprensa, minhas críticas pesavam mais do que meu otimismo, que nunca foi pequeno. O comentário despertou boas lembranças. Vindo do interior, tendo como formação apenas o ginásio e o colegial (o que não era pouco em relação o que existe hoje na educação), sem nada a não ser duas mãos e o sentimento do mundo, fora da faculdade devido à bruta intervenção do AI-5 no movimento estudantil, aportei em São Paulo e imediatamente quis trabalhar na Ilustrada de Tarso de Castro. Em poucas semanas eu estava assinando matéria de capa do suplemento. Além do empurrão providencial do Jorge Escosteguy, foi a decisão de vir para cá, de conectar-me com o que havia de mais criativo e importante na imprensa e sonhar com os textos que eu publicaria, é que um belo dia me vi cara a cara com este que é um dos jornalistas que mudaram a imprensa e revolucionaram não só os veículos, mas o comportamento geral no Brasil. Trabalhar com Tarso foi uma experiência única, em plena ditadura, quando todos os sonhos estavam proibidos. O mesmo aconteceu quando fiquei impactado pela capa da Istoé onde aparecia a manchete “Lula e os trabalhadores do Brasil”. Sonhar com a redação de Mino Carta foi o caminho mais curto para eu chegar lá, onde aportei pelas mãos do Wagner Carelli.

ESPELHO – Quem realiza um sonho, dá a mão para outros sonhadores. Quem se frustra, faz tudo para que os demais não consigam cumprir seus destinos. Um dos maiores obstáculos para conseguir o que você quer é entregar-se à imobilidade da falsa seriedade. Meu amigo Eduardo San Martin (de tanto citá-lo, quem sabe ele responde meus e-mails) costuma dizer que uma pessoa que, ao acordar de manhã, não ri da própria cara quando se olha no espelho, não é sério. O Hélcio Toth, que era fotógrafo e agora é artista de primeira (falta só uma exposição de arromba e uma crítica do Jacob Klintowitz) colocou num desses dias no seu obrigatório http://www.espinha.blogger.com.br/ um texto sobre os horrores do mau humor. Depois tirou, talvez por achar demasiado sério para seu espaço super-para-cima. Só para lembrar o seguinte: toda vez que vi um trabalho importante na imprensa, o ambiente era o mais alegre possível. Haviam os ruídos, as brigas, claro, mas no geral era uma gargalhada só. E não era suficiente: depois do expediente, tinha sempre a confraternização. “Parar de tremer” ou “afinar as veias” eram palavras de ordem minutos após o fechamento. Significa que um ambiente saudável só pode ser acessado se houver otimismo e bom humor, senão você não conecta. Não vá atrapalhar as pessoas com sua admiração séria, mas também não vá rir por qualquer coisa. Bom humor significa inteligência. Para seres datados como nós, é sempre a melhor solução.

EQUIPE VIRTUAL – Sem eles pedirem, prometi ao Hélcio e ao Marcelo Min (autor do magnífico http://www.fotogarrafa.blogger.com.br/) que montaria uma equipe virtual para o Diário da Fonte, um veículo imaginário que trabalha com a inclusão. Vou montar ao longo das colunas, à revelia ou não dos escolhidos. Sou suspeito, pois tenho um projeto que está pronto, com uma equipe montada, e não consigo deslanchar o patrocínio, mas como sou assim mesmo, aos turnos, confio na fé que nos une. Para começar, um departamento fotográfico que não tenha o Marcelo, o Hélcio e meu amigo uruguaianense Anderson Petroceli não pode ser digno desse nome. Nele, incluo o premiadíssimo Antônio Gaudério, que se bem me lembro, é de Santiago de Boqueirão. Como patrono, o sumido e imprescindível Leonid Strelaiev, o famigerado (de famoso) Uda, fotógrafo maior. E se houver bom comportamento, colocaria também o Tomás May. Outros nomes virão. Aceito sugestões. Na redação, por enquanto monto uma parte do Conselho Editorial: os jornalistas e escritores Wagner Carelli e Moacir Japiassu, e os jornalistas e professores Francisco Karam e Zélia Leal Adghirni. A reportagem é gigantesca e deixo para uma das próximas edições. A mim, me reservo o papel de animador cultural. Estão todos admitidos.

RETORNO – Recebo um aceno do jornalista Jorge Freitas, que lembra de mim nos anos 70 em Porto Alegre. Naquela época, trabalhei na Folha da Manhã, da Caldas Junior, que exibia em seus quadros jornalistas como José Onofre (o texto dos textos), Luis Fernando Veríssimo, Carlos Urbim, Caco Barcelos, José Antonio Simch da Silva, entre tantos outros, ótimos, como Dorival Pacheco, que era meu colega no copy-desk e foi-se prematuramente, com seu grande sorriso e seu abraço largo.

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