28 de junho de 2014

A SOLIDÃO INVENTA



Nei Duclós

A solidão inventa os amores
que não a atingem.
É o conforto da fantasia,
espuma que alisa o mar
e volta todos os dias

Tornam-se perenes companhias,
como se fossem vida,
mas são doces na vitrine
Você se serve às oito da matina
e acredita no sonho que cativa

No fim estar sozinho é teu
verdadeiro amor, do qual não abres
mão, lobo faminto. Foges do coração
que te ilumina, assustado com a voz
em busca do perdão, pobre porcelana

Despertas zonzo sem saber onde fica
o corpo que deixaste à deriva
sentes uma dor, mas há medicina
o que não passa é esse gesto em vão
em direção à flor inacessível



RETORNO - Imagem desta edição: Obra de Evandro Schiavone.