Nei Duclós
- Chega, disse ela.
- Não posso, disse ele. Eu paro mas os versos continuam.
- Você fala do que não entende, disse ela.
- É por isso que falo, disse ele. O que entendo eu calo.
- Dance comigo, disse ele.
- Você insiste, disse ela. Já falei que venho aqui só pela
música.
- Você está se repetindo, disse ela.
- O amor continua o mesmo, disse ele.
- Seja claro, disse ela.
- Só consigo quando me iluminas, disse ele.
AQUELE JACK O MARUJO
- Case comigo, disse Jack o Marujo.
- Tarde demais, disse a Sereia. Há tempos estou casada
contigo
- As mulheres tem todas as respostas, disse Jack o Marujo.
- Dispomos de tempo, disse a Sereia. Os homens demoram a
fazer nossas perguntas.
- Qual o sentido da vida? disse Jack o Marujo.
- Não se faça de tonto, disse a Sereia. Venha para cama.
- Hoje foram os 70 anos do desembarque da Normandia, disse o
Almirante.
- Só a bravura deixa herança, disse Jack o Marujo.
- O corpo da sereia te esquenta no frio? perguntou o
marinheiro.
- O que esquenta é o coração, disse Jack o Marujo. O corpo
pode até ter escamas.
- Vamos te matar desta vez! gritaram os piratas.
- Vocês são serviço para meia garrucha, disse Jack o Marujo
- Já lutou bastante, capitão, disse o Almirante. Hora de
jogar a âncora.
- A coragem não se aposenta, disse Jack o Marujo.
Num certo porto além de Bornéus, uma conspirata convoca o
capitão Jack o Marujo.
- Nem fodendo! bate na mesa o velho marinheiro.
PÉROLAS
Tudo é palavra, mesmo quando se quebra. Não me refiro a
sílabas, mas a pérolas.
Lavramos a terra com poemas. Depositamos a dura semente.
Colhemos o que nos falta, o pão que se reparte.
O que existe é a palavra. Somos sua poesia
O arame é a pista de pouso e decolagem da equilibrista. A
sombrinha, seu plano de voo. A saia, sua sedução e sonho.
Toda imagem faz justiça. Revela o que escondemos no bolso da
camisa.
A falsa admiração contamina todas as falas. Manipula até sem
querer estiletes em direção à pleura.
CENAS
Meu olho completa o que não vejo mais
Coloca remendos de tempos atrás
Enxergo um frankestein de cenas reais
o monstro se levanta no piso do cais
relâmpagos movimentam suas pás
Sou o cientista zarolho das matinés
uso capa para voar como os heróis
assusto a mocinha de vestido xadrez
assalto a diligência ainda de manhã
É tudo confuso como num mural