8 de junho de 2014

CÁPSULA



Nei Duclós

Cápsula, gota de chuva que não se esgarça
e permanece na superfície em guarda
encerrando em seu núcleo transparente
a flor que preserva para desfazer-te
em lágrima quando a tocares

Abóbada de um vidro mínimo que reflete
a luz ainda tépida, antes de despertar
em fogo da aurora, brilho sem pálpebra
mas firme em sua gelatina  teimosa
mistério da matéria entre gel e pele

Pólipo que não se espalha e reproduz
o sério convívio entre o ser e o comício
o grito de um sino de veludo, bronze
altivo mas sóbrio, que resiste ao espinho
e evita a pétala para se manter intacto

Pérgula de um jardim sem nenhum acesso
onde beldades ocultas dominam as feras
oferecendo mel e ambrosia para o Tempo
rebento de uma impostura antiga, o amor
que é o mito sem nada escrito na pedra

Sólido equilíbrio que me tenta mal pinta
o dia com sua penumbra, promessa
de algo profundo que devora a claridade
e joga pesado sobre a gota em teu vestido
que colho com a língua onde jaz a poesia