Nei Duclós
O que eu quero de ti guardas com carinho. Esse bibelô de
gritos. Esse arrepio sem fim. Esse olhar de bicho.
A manhã rompe como um beijo. Abres a torneira do desejo.
É o que eu faço de mais explícito: o prazer de estar
contigo. O resto pode esperar na fila dos tropeços.
Abandonei nosso sonho e só voltei agora. Não sabias porque,
mas estavas à minha espera. Vim como a cidade sitiada que se liberta.
Utopia é um exercício. Datado. Nasce na esperança, se
recolhe no conflito.
Teus passos ressoam em mim, deslizando sobre o que sobrou
das nossas tardes.
Te escondes, feminina, no canto, colecionando suspiros. Te
acho forçando a barra do vestido. Não pare de tremer, perdida.
Achas pecado o que tens de mais íntima. Deixe sua paixão
fora disso. Voe, todinha.
Já vi tudo. Depois te cubro.
O mel na pele na perna, perto do porto, é doçura atraindo o
impulso que não impeço.
Dizer olá sem dar um beijo é deixar para depois o que pode
ser feito agora.
Dose de andorinha em teu voo arisco. Espero que pouses,
dividida.
RETORNO – Imagem desta edição: Kate Winslet.