3 de agosto de 2012

MEL E SOMBRA


Nei Duclós

Só tu, perfil perfeito. Só teu corpo supremo, tua voz sem concorrência. Só tu, inteira, amor que jamais vence.

Tens o dom da palavra cheia de mel e sombra. Um ruído rompe o luar tão perfeito. É a lembrança do amor que se foi para sempre.

Quebras o gelo com teu roçar de pernas. O clima desanda em direção à primavera.

Tantas vezes falei essa palavra. Só em ti tem sentido.

Ultrapassei o limite da saudade. Vivo no limbo, que é a Queda provocada por tua ausência.

Não estamos mais juntos. É como se o universo tivesse fechado para balanço.


LOBO ORDINÁRIO

Achavas que estavas com tudo. Mas ela te deu um nó e ficaste sem nada. Hoje uivas na sua porta, lobo ordinário.

Pode me chamar de amigo o quanto quiser, amor. Não cola.

Mais madura, e linda como nunca, dás um mergulho no amor da poesia. Escuto o barulho do teu corpo caindo nas águas da palavra cheia de veneno.

Anos sem te ver e assomas como ninfa, de perfil, olhando para além de mim. Semente de deusa, nem sabes do impacto que provoca a tua beleza.

Cada palavra jogada no mundo voltará crescida cobrando a conta

Construimos um planeta de poemas. Lá moramos sem sustos. Nossa força de gravidade é o espanto.

Treinei tua fala em poemas. Recitas a minha fonte. Renovo assim com tuas águas. Que trazes na nossa boca.

Vamos pensar em outra coisa. Há tempos não vejo de perto aquela curva. Chega aqui para eu saber se ela ainda tem meu beijo.

O inverno é um teste, para ver se o coração congela. Quem mantém a chama ganha de presente a primavera

Perder a esperança é decidir o futuro na véspera. É o fim da espera, perder a fé no que o destino apronta.

Inverno é quando a Lua esconde o Sol debaixo das cobertas e só solta acompanhado pelas nuvens espessas.


AGOSTO DE LUA

Agosto começa com sabor de Lua Cheia, surpresa depois dos dias de ressaca, aceno de amor que vem sem pressa.

Não podemos falar mal de agosto. Sol a rodo, amor que volta. Pré-estréia de uma possível primavera.

Dia claro, noite de Lua cheia, um poema por hora, a mensagem que te recebe ainda com sono. Ela te ama. Dale, agosto.
A Lua cheia é a obra prima da curva. Tem até um sorriso de Gioconda.

Me chamas para a Lua, mas já estou na garupa da rainha há vários minutos, desde o momento em que ela me deu um susto de tão bonita.

Hoje notei o dia mais comprido, como se fosse a preguiça de um menino levado que não atende o chamado do crepúsculo e brinca no colo da Lua ainda por vir

A mais perfeita Lua que o céu noturno pode suportar é onde meu olhar cruza cheio de esperança.

Somes como a estrela da manhã depois que o sol se instala. Te procuro em vão na trilha do céu claro. Espero a madrugada quando voltas. Mas te escondes atrás da Lua, majestosa.

O sol voltou. Acabaram as desculpas. Tira tudo. Só não me aplica aquela história de que neste ano não fez frio.

RETORNO – Imagem desta edição: Corinne Calvet.