29 de junho de 2009

VITÓRIA DE NARVÁEZ E COMPLICAÇÃO EM HONDURAS


Nei Duclós

Não foi Francisco Narváez, definido como magnata, liberal e peronista dissidente, quem venceu as eleições legislativas na Argentina: foi o casal Kirchner que perdeu. Criei a manchete acima porque deverá ser a única neste dia com esse enfoque. A mídia estava toda concentrada nos Kirchner e deixaram de lado algo pouco importante, como o candidato da oposição. Esse assunto certamente será aprofundado nos próximos dias, mas por que não agora, hoje? Quem é realmente Narváez? Não me venham com links, devem ter inúmeros. Falo da mídia das primeiras ocorrências e dos grandes veículos, Clarin, de Buenos Aires, inclusive.

Deve ser ordem expressa dos manuais de redação, que ensina, de antemão, o que é e não é notícia (aquela asneira de morder o cachorro). Honduras, por exemplo, qual é a notícia? Golpe militar! dizem todos. Obedecem à lógica internacional das idéias prontas, a que sustenta o sistema econômico. Parece que foi contra-golpe. O presidente deposto estava a fim de se perpetuar no cargo e foi mexer logo com quem, com um general. Voltou atrás e se deu mal. Acabou nos braços do Chavez, que está louco por uma guerrinha, até que alguém lhe acerte as fuças de porquinho e ele então se cale para sempre.

Lembrei do marechal Lott que colocou tropa na rua em 1955 para garantir a posse de Juscelino Kubistchek, contra o continuísmo dos golpistas. Achei acertada a indicação do presidente do Congresso para ocupar interinamente a presidência e a convocação de eleições gerais em novembro. Posso estar enganado, pois as informações são escassas. Os jornalistas estão ocupados em repetir exaustivamente o Mesmo, para não haver o que eles consideram Erro. E é aí que erram. Gripe suína, por exemplo. Primeiro, houve um clima de blockbuster de tragédia global, com o planeta sendo invadido pelos Sete Macacos no Independence Day. Depois, alguém poderoso pediu para baixar a bola. Obedeceram.

Aí colocaram a doença no saco, quando então foi decretada a pandemia. O assunto voltou às manchetes, mas não com o mesmo furor. Ora, só mata quem pega, dizem, pouca coisa. Ora, 600 casos confirmados no Brasil, quem se importa? Parece a Lei Seca. Por uns dois meses, foi aquele furor de blitz, gente tomando água de coco na balada e bafômetros que tais. Logo em seguida, aquela preguiça. Um ano depois, a merda continua a mesma, porque a mídia faz campanhas obsessivas sobre pautas repetitivas e depois larga de mão. No seu excelente blog na veja.com, Augusto Nunes tem uma seção chamada O país quer saber, onde ele resgata um monte de barbaridades que foram deixadas de lado pela imprensa apressada.

Prevejo uma fase de endeusamento de Dunga, agora que ele provou a que veio. Dunga errou muito, mas acertou também, tanto é que sua campanha é vitoriosa. O problema não é gostar ou não, apoiar ou não o Dunga ou o Ricardo Teixeira, a CBF contra Kfouri e essas coisas. O problema é achar que alguns empates e derrotas servem para destruir, achincalhar um profissional. Assim como suas vitórias não devem servir para colocá-lo no panteão dos deuses. Acho Dunga, como Felipão, dialético, trabalha de maneira interativa, na tentativa e erro ou acerto. Acho-o sério, mas não um gênio.

E agora que as manifestações do Irã caíram em desuso nas manchetes, por força da repressão e do terror, os jornais vão deixar de lado a revolta popular? Ou vai virar um novo mensalão, aquele acontecimento provado pela Procuradoria Geral da República e que ficou por isso mesmo? Achei graça das denúncias de fraudes que a oposição fez na Argentina. Eventos mínimos, falta de cédulas aqui e ali. Nem chega perto das nossas urnas eletrônicas, a caixa preta da ditadura fantasiada de democracia.

As perguntas são: quem é, de fato, Narváez e o que significa sua vitória, o que realmente ele vai fazer? O que Chavez tem a ver com Honduras? Quantos estão sendo assasinados no Irã? O que o Brasil está fazendo de fato para evitar a pandemia da gripe suína? Cumpram as pautas óbvias e não insistam no óbvio. Depois não se queixem que os blogs dêem uma surra nos jornalões. É preciso deixar de ser babaca. Chega a doer a maneira torpe com que a Globo está, finalmente, tratando a internet. Eles se deram conta que estão perdendo audiência, ou seja, grana e aí partiram para falar da internet, de levar em consideração o que rola na rede. Mas fazem isso instaurados na pompa de sempre e com a mania de manipular tudo.

UP-GRADE - OS CRIMES DE CHAVEZ EM HONDURAS

A equipe do Diário da Fonte (este jornal tem equipe!) descobriu a ligação de Chavez com Honduras. Chavez subsidiava a política de suborno popular promovida pelo presidente deposto, distribuindo tratores, por exemplo; cobrava abaixo da tabela para o petróleo em troca de fidelidade; e, o mais grave, imprimiu as cédulas do plebiscito proibido pelo Judiciário e o Congresso de Honduras, que estavam retidas numa base aérea. O presidente deposto tentou retirar à força as cédulas. Queria legalizar a reeleição, proibida pela Constituição, por meio de um referendo que poderia lhe ser favorável por meio da manipulação e dos desvios da politica de suborno popular acima referida (é proibido comprar voto!). Vejam que sujeito perigoso esse Chavez, que chegou a pedir a intervenção de seu tradicional aliado, os Esdados Unidos! Na hora decisiva é que se conhecem os "estadistas" da pseudo ideologia. Uma coisa é certa: reeleição ilegal é tropa na rua.

RETORNO - Imagem desta edição: Marechal Lott atrás de João Goulart. Lott garantiu a posse de JK em 1955 e foi candidato derrotado por Jânio em 1960. Nem sempre um movimento militar é golpe, nem sempre os civis são inocentes, nem sempre um presidente eleito pode fazer o que bem entender.

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