9 de outubro de 2008

A ESSÊNCIA DO TRABALHISMO DE OPOSIÇÃO


Depois de Leonel Brizola (Caros Amigos Editora, 76 pgs., R$ 12,90), o novo livro de Gilberto Felisberto Vasconcellos, está sintonizado, de maneira ainda mais ampla e fecunda, com o que, durante anos, publiquei aqui na militância trabalhista não partidária do Diário da Fonte. Trata-se de alta produção de pensamento. Vasconcellos é um teórico sério, contundente, certeiro, que se dá o luxo, proporcionado pela criatividade do trabalhismo, de usar todas as nuances da linguagem, sem se engessar no paga-pau colonizado dos jargões acadêmicos. De maneira clara, coloca os fundamentos do trabalhismo, sua importância histórica, sua função libertária e, portanto, sua atualidade depois da morte do líder.

Nesta primeira abordagem sobre seu livro, que é composto por três ensaios (Morrer para não morrer, Antídoto à orfandade política e Atualidade do trabalhismo) prefiro reproduzir alguns trechos desse manifesto, que faz parte da melhor panfletagem política revolucionária. Eles assim ficam incorporados, com o devido crédito, ao acervo antológico do DF, um jornal de oposição à entrega da soberania do país aos estrangeiros. O momento não poderia ser melhor, quando a mídia se dedica a tentar mascarar o rombo provocado pela ditadura financeira internacional, que até agora deu as cartas na política e é responsável pela perda da soberania do Brasil.

GILBERTO VASCONCELLOS DIZ:

“Aquilo na última década que se denomina feijoada petucana, para a qual todos os partidos políticos contribuem com algum tipo de ingrediente, é a formulação de que o capital privatizador por excelência se faz sob a égide do capital financeiro internacional. Contra isso o Estado, e mesmo a sociedade brasileira, não teria defesa. Trata-se de um processo de centralização imperialista de dentro para fora, cujo supremo objetivo é dar juridicamente um caráter legal e sagrado à propriedade estrangeira do território.”(pg.14)

“Dos informes sociológicos do CEBRAP à venda da Vale do Rio Doce existem laços de conexão. A verdade é que a privatização das ciências sociais nos anos 70 precedeu as privatizações das empresas estatais.” (pg. 23)

“Numa época em que os partidos políticos estão em transe onomástico (O PFL virou DEM), o PT deveria acrescentar a letra F: o petefinanceiro.” (pg.25)

“Se a UDN é a visão norte-americana do Brasil, e se o PT é na década de 80 em diante a UDN de macacão, então quem dá a última palavra no Banco Central de Meirelles é a voz da rapinância internacional.” (pg. 27)

“O que deixa fraco o dirigente é a estrutura colonial do poder. Leonel Brizola analisou sob o signo da fraqueza a personalidade de Lula: um político fraco. A psicologia do governante fraco é um reflexo da situação colonizada do país.” (pg.30)

“O governo Lula, com Guido Mantega no Ministério da Economia, acha FHC um gênio do CEBRAP rockfelleriano por defender a malandragem de que é possível conseguir o desenvolvimento do país sob a situação de dependência." (pg.30)

“A causa da queda de Vargas em 1945 não se deu em razão do caráter ditatorial do Estado Novo, e sim por atender ao objetivo de integrar de modo subalterno a economia brasileira aos interesses do capital monopolista norte-americano." (pg. 38)

“O crepúsculo do trabalhismo significará a venda da nação com as privatizações internacionais. Resulta daí o arraigado estrangeirismo mental dos jornalistas e empregados”. (pg.39)

"O inimigo externo tomou conta do país porque há, dentro do próprio país, inimigos que o entregam. Acontece que o povo brasileiro não tem outro lugar para viver e morrer senão no Brasil.” (pg. 40)

"A máquina universitária e midiática do prestígio político não consagrou Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, mas sim FHC e Lula. Estes, ungidos pelos bancos internacionais, colocaram como bandeira progressista a questão da democracia, identificando o regime de 1964 com autoritarismo, ocultando no entanto sua essência: a entrega de riquezas do país às multinacionais.” (pg.50)

“Não é com educação que se põe fim á contradição riqueza/miséria. Assim, desvirtuar a memória do trabalhismo – e com isso deixar decapitado politicamente o povo brasileiro – é proceder à defaçatez, tão ao gosto do oportunismo do PT, de disjuntar a cidadania social da soberania nacional.” (pg.57)

“A abertura política foi montada depois que o monopólio televisivo pudesse assegurar aos interesses econômicos pós-1964 a sua reprodução, com o resultado favorável pelo voto. Democracia, sim, porém moldada pelo aparato vídeo-financeiro." (pg.67)

"Abafar a memória de Leonel Brizola é negar a causalidade social e econômica entre a miséria do povo e a espoliação nacional" (pg.73).

“A versão made in Brasil do pensamento único, compartilhado de Sarney a Lula, é a idéia reacionária de que é possível conciliar democracia com imperialismo. Muda-se apenas o vocabulário: ora modernidade, ora globalização, ora cidadania.” (pg. 74)

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