Agora que ninguém liga mais a TV aberta, por ser a pior coisa do mundo depois de ficar sem dinheiro, em que todos cansaram de mais do mesmo, em que desperdiçam a Claudia Abreu fazendo-a se roçar por nada, que não colocam nas suas falas algo à altura da sua presença e talento; agora que encheram o saco com tanta porcaria e afastam cada vez mais o público da telinha, pois agora quero fazer uma novela de TV. Não para recuperar a audiência, porque disso não entendo nem quero entender. Mas só para mostrar como é fácil fazer uma novela que não seja uma sucessão de besteiras, e que hoje está muito abaixo de qualquer dramaturgia, do teatro ao cinema, do evento ao filminho de publicidade.
Aliás, a melhor coisa da dramaturgia que surgiu na telinha nos últimos tempos é Sapateado, da W Brasil, o cara que sapateia sem querer por quatro anos e assim perde seu tempo. É um exemplo de que os talentos estão na mão e podem muito bem ser aproveitados. Basta pegar o criador, o roteirista, o câmara, o editor do filminho do TSE e contratá-los. Paga uma grana para eles, que o talento se resolve na boa. Com tempo e remuneração, tudo deslancha. Não pode é ficar pagando bobalhão para mostrar o surfe (pára com isso, o surf é dos anos 80!) ou essa coisa sinistra que é A Favorita, a novela que indispôs o estômago dos espectadores com a bela e talentosa Patrícia Pillar.
Como seria a minha novela? Não, não vou colocar o Lula comparando o povo brasileiro ao paciente terminal que merece ouvir mentiras otimistas sobre a crise, como confessou ontem publicamente, numa demonstração explícita de idiotia. Precisamos melhorar o nível. Ninguém com a cara do FHC vai aparecer babando com um chapéu carnavalesco de doutor Honoris Causa das Universidades Unidas da Transilvânia (se você bate no PT, tem que bater nos tucanos, é uma questão de isonomia). Também não teria o eterno Tony Ramos fazendo assim com as mãos e forçando algum sotaque. Ou o Antônio Fagundes, de bigodinho grisalho, comendo uma franga stripper. Também não desperdiçaria talentos como Tarcisio Filho ou Werner Schüneman.
Uma novela minha teria obrigatoriamente Pedro Cardoso e Miguel Ramos como protagonistas, atuando sob a pressão magnífica de grandes atrizes como Sandra Corveloni, a que ganhou Cannes, e Silvia Lourenço, estupenda em O Cheiro do Ralo. Teria José Dumont e Julio Conte. Teria Dira Paes, Claudia Abreu, Marília Pera e Othon Bastos. Eu não escreveria a novela. Chamaria o pessoal do Literário, do Comunique-se: Marco Albertim, Fabio de Lima, André Falavigna, Celamar Maione, Daniel Santos. Ficaria só na edição e complementos. Mandaria para o mestre Moacir Japiassu dar uma olhada. Pediria conselhos ao Wagner Carelli.
Pronto, estaria pronta a minha novela. Seria sobre o Brasil que as novelas não mostram. Vamos começar por gente honesta que não seja babaca. Vilão que não seja charmoso. Mocinha que não seja programa. Galã que vista camisa. Os bandidões, os manda-cuvas, seriam todos estrangeiros. Os executantes, os bandidinhos, todos brasileiros. Os heróis, todos da Terceira Idade. Haveria cenas de alfabetização sob a cartilha O Caminho Suave. Teria no mínimo um personagem sempre com um livro na mão. Haveria segredos, mas não de Polichinelo. Não chuparia nenhum escritor importante. Haveria mistério, mas bem amarrado. Não teria núcleos, nichos dramatúrgicos divididos em classes sociais. Não teria apelação, apenas qualidade.
Coloca no horário nobre para ver o que acontece. Depois não digam que não avisei.
RETORNO - 1. Imagem de hoje: Rita Moreno em West Side Story, de Robert Wise, o filme que é a glória da ação, do drama, do canto, da dança, do sapateado. Arte é encanto e lágrima, inteligência e narrativa e não um monte de fórmulas gastas. 2. A grande novidade do segundo turno são as imagens dos candidatos em frente às telas de computador, com cara de produção de pensamento. Devem ter dito para eles: "Ei, a mídia tradicional está fazendo água, o que pega agora é a internet". "É mesmo?" respondem. "E como é que funciona isso? Onde eu sento? Aqui? Como assim, chat?"
Aliás, a melhor coisa da dramaturgia que surgiu na telinha nos últimos tempos é Sapateado, da W Brasil, o cara que sapateia sem querer por quatro anos e assim perde seu tempo. É um exemplo de que os talentos estão na mão e podem muito bem ser aproveitados. Basta pegar o criador, o roteirista, o câmara, o editor do filminho do TSE e contratá-los. Paga uma grana para eles, que o talento se resolve na boa. Com tempo e remuneração, tudo deslancha. Não pode é ficar pagando bobalhão para mostrar o surfe (pára com isso, o surf é dos anos 80!) ou essa coisa sinistra que é A Favorita, a novela que indispôs o estômago dos espectadores com a bela e talentosa Patrícia Pillar.
Como seria a minha novela? Não, não vou colocar o Lula comparando o povo brasileiro ao paciente terminal que merece ouvir mentiras otimistas sobre a crise, como confessou ontem publicamente, numa demonstração explícita de idiotia. Precisamos melhorar o nível. Ninguém com a cara do FHC vai aparecer babando com um chapéu carnavalesco de doutor Honoris Causa das Universidades Unidas da Transilvânia (se você bate no PT, tem que bater nos tucanos, é uma questão de isonomia). Também não teria o eterno Tony Ramos fazendo assim com as mãos e forçando algum sotaque. Ou o Antônio Fagundes, de bigodinho grisalho, comendo uma franga stripper. Também não desperdiçaria talentos como Tarcisio Filho ou Werner Schüneman.
Uma novela minha teria obrigatoriamente Pedro Cardoso e Miguel Ramos como protagonistas, atuando sob a pressão magnífica de grandes atrizes como Sandra Corveloni, a que ganhou Cannes, e Silvia Lourenço, estupenda em O Cheiro do Ralo. Teria José Dumont e Julio Conte. Teria Dira Paes, Claudia Abreu, Marília Pera e Othon Bastos. Eu não escreveria a novela. Chamaria o pessoal do Literário, do Comunique-se: Marco Albertim, Fabio de Lima, André Falavigna, Celamar Maione, Daniel Santos. Ficaria só na edição e complementos. Mandaria para o mestre Moacir Japiassu dar uma olhada. Pediria conselhos ao Wagner Carelli.
Pronto, estaria pronta a minha novela. Seria sobre o Brasil que as novelas não mostram. Vamos começar por gente honesta que não seja babaca. Vilão que não seja charmoso. Mocinha que não seja programa. Galã que vista camisa. Os bandidões, os manda-cuvas, seriam todos estrangeiros. Os executantes, os bandidinhos, todos brasileiros. Os heróis, todos da Terceira Idade. Haveria cenas de alfabetização sob a cartilha O Caminho Suave. Teria no mínimo um personagem sempre com um livro na mão. Haveria segredos, mas não de Polichinelo. Não chuparia nenhum escritor importante. Haveria mistério, mas bem amarrado. Não teria núcleos, nichos dramatúrgicos divididos em classes sociais. Não teria apelação, apenas qualidade.
Coloca no horário nobre para ver o que acontece. Depois não digam que não avisei.
RETORNO - 1. Imagem de hoje: Rita Moreno em West Side Story, de Robert Wise, o filme que é a glória da ação, do drama, do canto, da dança, do sapateado. Arte é encanto e lágrima, inteligência e narrativa e não um monte de fórmulas gastas. 2. A grande novidade do segundo turno são as imagens dos candidatos em frente às telas de computador, com cara de produção de pensamento. Devem ter dito para eles: "Ei, a mídia tradicional está fazendo água, o que pega agora é a internet". "É mesmo?" respondem. "E como é que funciona isso? Onde eu sento? Aqui? Como assim, chat?"
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