Nei Duclós (*)
Tio Patinhas fez suas abluções matinais, colocou a sunga de grife, subiu no trampolim e saltou na piscina vazia. Foi um baque: sua liquidez tinha ido para o ralo. Ela parecia ilimitada desde o momento em que trocou a montanha de dinheiro, acumulada em décadas de sucesso, por ações na Bolsa e investimentos de alto risco. Por um longo tempo, conseguira manter seu pulo diário dentro do cofre forte, transformado num paraíso de negócios virtuais. Quando a crise apontou na curva, não houve mais quaquilhão de agüentasse. Era hora de quebrar o bico na laje do lucro selvagem.
Fico pasmo com o bico afiado dos analistas de economia, muitos deles responsáveis por planos mágicos de um passado próximo, em que sucessivamente foram substituindo nossa unidade monetária por algo próximo a uma pena de pato. Quando restou apenas a penugem, era penoso vê-los engomados a sustentar o insustentável. O desequilíbrio dos argumentos revelou-se no primeiro tremor financeiro sério. Mas eles jamais perdem a pose. Imediatamente se transformam em críticos do que na véspera celebravam, advertindo de dedo em riste para a platéia.
Falam como se nós, o gentio, fôssemos responsáveis pelo mau comportamento da realidade. O único pecado do leigo, aluno aplicado do livro-caixa, é arriscar palpites fundados no bom senso ou nas evidências, o que o torna alvo do desprezo dos sabichões. "As coisas não são bem por aí", dizem, enquanto capricham na cara de paisagem.
Imagino que os analistas possam também ser vítimas desse sistema que entrega a favela depois de prometer a estação de esquis. Em todo o nicho de conhecimento há um quê de auto-ajuda. Quem acreditou na própria pregação, apostando no cassino podre, deve estar hoje solfejando os prejuízos, vendendo na baixa do Sapateiro para sair do raso da Catarina. A não ser que seja o tipo de especulador que só perde o que é dos outros, quando a bolha estoura. O mais engraçado é que a bolha só existe depois que explode. Antes, é chamada de mercado.
Ao pagar o pato, descobrimos que as coisas eram mesmo bem por aí, como desconfiávamos. Mas a era do "com certeza" impediu que revidássemos a tempo.
Tio Patinhas fez suas abluções matinais, colocou a sunga de grife, subiu no trampolim e saltou na piscina vazia. Foi um baque: sua liquidez tinha ido para o ralo. Ela parecia ilimitada desde o momento em que trocou a montanha de dinheiro, acumulada em décadas de sucesso, por ações na Bolsa e investimentos de alto risco. Por um longo tempo, conseguira manter seu pulo diário dentro do cofre forte, transformado num paraíso de negócios virtuais. Quando a crise apontou na curva, não houve mais quaquilhão de agüentasse. Era hora de quebrar o bico na laje do lucro selvagem.
Fico pasmo com o bico afiado dos analistas de economia, muitos deles responsáveis por planos mágicos de um passado próximo, em que sucessivamente foram substituindo nossa unidade monetária por algo próximo a uma pena de pato. Quando restou apenas a penugem, era penoso vê-los engomados a sustentar o insustentável. O desequilíbrio dos argumentos revelou-se no primeiro tremor financeiro sério. Mas eles jamais perdem a pose. Imediatamente se transformam em críticos do que na véspera celebravam, advertindo de dedo em riste para a platéia.
Falam como se nós, o gentio, fôssemos responsáveis pelo mau comportamento da realidade. O único pecado do leigo, aluno aplicado do livro-caixa, é arriscar palpites fundados no bom senso ou nas evidências, o que o torna alvo do desprezo dos sabichões. "As coisas não são bem por aí", dizem, enquanto capricham na cara de paisagem.
Imagino que os analistas possam também ser vítimas desse sistema que entrega a favela depois de prometer a estação de esquis. Em todo o nicho de conhecimento há um quê de auto-ajuda. Quem acreditou na própria pregação, apostando no cassino podre, deve estar hoje solfejando os prejuízos, vendendo na baixa do Sapateiro para sair do raso da Catarina. A não ser que seja o tipo de especulador que só perde o que é dos outros, quando a bolha estoura. O mais engraçado é que a bolha só existe depois que explode. Antes, é chamada de mercado.
Ao pagar o pato, descobrimos que as coisas eram mesmo bem por aí, como desconfiávamos. Mas a era do "com certeza" impediu que revidássemos a tempo.
RETORNO - 1. (*) Crônica publicada nesta terça-feira, dia 21 de outubro de 2008, no caderno Variedades, do Diário Catarinense. 2. Imagem de hoje: Tio Patinhas nos bons tempos.
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