7 de outubro de 2008

QUAL DEMOCRACIA?


Nei Duclós (*)

O conceito de democracia está a reboque dos consensos forjados. O objetivo é impor os cem por cento de aprovação para quem usufrui do topo da pirâmide. E ter o cuidado de chamar de ditadura a posição de quem se insurge contra certezas tornadas, subitamente, eternas. Para que essa mágica funcione, é preciso instrumentar a cartola e providenciar os coelhos. Pesquisa de opinião, por exemplo, substitui perfeitamente o resultado da urna. Pela lógica do espetáculo circense, não se deve criticar os índices pluviométricos de aceitação ou recusa sobre esse ou aquele candidato.

Fala-se tanto em voto de cabresto como se fosse algo pertencente ao passado. Mas o voto útil, por exemplo, mais explícito no segundo turno, é o mesmo velho hábito das eleições antigas, só que atualizado por meio de argumentos, digamos, científicos. O engessamento da opinião, que existe a partir de conglomerados de pensamentos prontos para o uso (mas embalados num charme pseudofilosofante), é a grande tragédia do atual estágio político brasileiro. Reflete a imposição de proibições, mascaradas sob a ótica dos nichos.

Se você não for identificado como especialista, não pode debater política ou economia, pois esses são outros departamentos. Fica mais fácil. Os argumentos navegam em vasos comunicantes e todos ficam satisfeitos. Se você é cidadão, só fala de baixo para cima, no máximo como consumidor consciente e jamais como uma pessoa política completa, capaz de peitar estadistas. Cada um deve conhecer o seu lugar, como determinava a máxima racista. Expropria-se, assim, a grandeza dos eleitores, representados por carregadores de bandeiras a soldo dos candidatos.

A contundência do verbo decididamente de oposição migrou da política (que prefere a baixaria pura e simples) e refugia-se nas rodas improvisadas pela população nos lugares onde ainda existem calçadas. Erma de um ambiente adequado e de insumos teóricos que só a leitura e a reflexão podem proporcionar, a cultura empírica é hoje o último reduto da imaginação e da liberdade política. Estas, foram erradicadas dos níveis estratosféricos onde o debate sobre “projetos” em época eleitoral costuma acabar em CPIs.

RETORNO - 1. (*) Crônica publicada nesta terça-feira, dia 7 de outubro de 2008, no caderno Variedades, do Diário Catarinense. 2. Imagem de hoje: soldados americanos implantam a bandeira em Iwo Jima, na Segunda Grande Guerra. Essa foi a maior carregada de bandeira da História. Uma representação, pois os caras posaram para a foto. Mas de efeito devastador. Carregar bandeira é um gesto épico e não um sacudir de panos a "10 real" por dia, como nas atuais campanhas brasileiras.

EXTRA - SOCORRO PARA BANCOS E O SEGUNDO TURNO

Quer dizer que agora o Banco Central vai "socorrer" instituições financeiras em apuros. E a montanha de lucros que ganharam, não serve para nada? Era tudo mentira? Foi estocado? Gastaram tudo em sacanagens? E adianta socorrer? Então por que as bolsas quebram depois de aprovado o pacote de um trilhão de dólares para o tal mercado, aquele que provê tudo, a panacéia milagrosa que substituía o Estado?

Agora foi desmascarado o grande saque das nações e populações, essa ditadura financeira global de arrasa quarteirão, geradora de desertos, a mesma que está erradicando o acesso dos povos às sementes dos alimentos, a que fez do agronegócio uma fonte de monstrusidades genéticas, a que acabou com os parques industriais dos países emergentes, a que faz da dívida externa a pirataria mais explícita. O que farão os prefeitos eleitos com a grande crise que se abate sobre o mundo e que no Brasil, apesar das mentiras oficiais, já está provocando prejuízos gigantescos e tudo poderá acabar indo para o saco?

Segundo turno é hora de o prefeito pragmático, o que venceu o primeiro por meio da visibilidade das obras ou por representar a esperança de que fará alguma coisa que preste, compor alianças e acordos. Aqui em Floripa o prefeito Dario Berger perdeu votos ao tentar inflar o terceiro lugar, César Souza, com uma polêmica ridícula, que só lhe tirou força, em vez de surtir o efeito esperado, o de esvaziar o segundo lugar Espiridião Amin. Este, provou que tem cacife e, se tiver apoio de César, poderá surpreender e levar a eleição que Dario já tinha no papo.

Gabeira diz que não faz alianças e que não distribuirá cargos. Perdeu a eleição. Não porque deva fazer sacanagens e imitar as velhas raposas políticas. Mas porque não fechou a boca na hora certa. Não lembrou do Marechal Lott em 1960 ou do Eduardo Gomes em 1950, que esnobaram votos e foram derrotados. Lula venceu porque compôs com todo mundo, não negaceou voto como fazia antigamente e perdia. No segundo turno, o voto é de cabresto, é útil. Não devia ser assim. Deveria ter apenas primeiro turno. Quem vencia, levava. Tentar um maioria forjada me parece falso.

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