19 de novembro de 2006

TRÊS LEIS DO CINEMA





Existem três leis do cinema americano em vigor. A primeira é antiga: todo filme é a história da relação entre dois homens. Sejam dois irmãos, dois amigos, pai e filho, mocinho e bandido, moço e velho, sempre existe essa ligação. Até mesmo em comédia romântica isso costuma existir: o herói tem sempre um bobão que o acompanha e torce para o namoro dar certo ou então luta contra ele. A segunda lei é mais recente, mas nem tanto: é obrigatória a presença da bandeira americana em pelo menos uma cena do filme. Vimos isso o tempo inteiro. Representa a hegemonia da América no mundo todo (quando o filme se passa no estrangeiro, eles dão um jeito de aparecer o consulado ou embaixada com o tal pano estrelado). A bandeira americana flutua sobre personagens, está em cantos, no alto, nos mastros, nas festas, sempre em algum lugar. O planeta é deles, alguma dúvida? E a terceira lei, mais recente, é: sempre haverá uma cena do mijo. Não tem como escapar: em qualquer momento do filme, alguém mija. Normalmente para confabular ou matar. Tem sangue demais nos banheiros de Hollywood. Vamos esmiuçar as três leis.

PRIMEIRA - Batman e Robin (exemplo clássico), Tango e Cash (dois policiais que se amam), Zorro e Tonto (no faoreste, então é brincadeira), Danny Glover e Mel Gibson (quanto desespero nesse caso dilacerado da série Máquina Mortífera): a relação entre dois caras domina a cultura americana. O herói entra no bar e sai uma relâmpago dos olhos: Henry Fonda e Victor Macture em My Darling Clementine é o exemplo mais explícito. John Wayne é uma sucessão de duplas masculinas que se adoram/odeiam. Essa abordagem sobrevive até hoje. Houve até intensificação disso: segundo Gore Vidal, Stephen Boyd e Charlton Heston encarnaram em Ben-Hur personagens que se desejavam ardentemente. Normalmente, a ligação entre dois é apresentada como camaradagem de guerra (quando tudo é permitido), ligação desde a infância, parceria em função de um objetivo (como Nick Nolte e Eddie Murphy em 48 Horas). Mas é sempre entre dois caras. A mulher ocupa, na maioria dos filmes, lugar coadjuvante. Em Além da linha vermelha (1998) de Terrence Mallick, a dupla central é protagonizada por Sean Penn e James Caviezel. O filme todo gira em torno dessa relação, complicada, profunda, emocionada. Mulher só aparece de verdade em carta (em sonho e lembrança também, mas na real só por meio de uma carta), dando o fora num soldado no front. É muita bandeira!

SEGUNDA - Pode apostar: desde o primeiro instante ou ao longo do filme ou em algum lugar nele, aparece a bandeira americana. Eles não vivem sem seu símbolo do qual tanto se orgulham. As bandeiras estrangeiras jamais aparecem, a não ser para representar a vilania. Tem filme em que dúzias de bandeiras estreladas afogam o visual como a dizer: vocês estão condenados a nos adorar! Deve ser uma imposição: nenhum filme americano pode prescindir da bandeira. Isso significa o seguinte: não há liberdade de expressão na América, já que o Império não pode ser contestado, não existe arte americana fora dos padrões da nacionalidade. Filme de migrante tem um único foco: como ele se torna americano. Em algum momento ele vai jurar a bandeira. Assim se fazem as cabeças do mundo, que busca arte e encontra ideologia. O mais grave é que os artistas envolvidos jamais admitem que estejam fazendo algo a favor do domínio imperial. Eles vivem falando em fun. Essa é uma palavra recorrente: tudo é fun, como se uma indústria que atinge o mundo todo fosse pura perda de tempo e entretenimento. Cinema faz parte da guerra. Fun o cacete. É tudo guerra.

TERCEIRA - É batata. O encontro é no mictório. Aí um fica ao lado do outro e se avaliam. Depois sacodem. E ficam conversando. Teve filme que uma investigadora foi atrás do chefe no banheiro. O sujeito achava que ia se livrar da mulher e entrou no recinto sagrado. Dançou. A inspetora continuou conversando e nem deu bola para o sacudir frenético. Por que tem sempre a cena do mijo (em TODOS os filmes de dez anos para cá, não estou exagerando)? Para dizer que o Código Hayes (que impunha a cama separada para casal) acabou? Não precisava insistir tanto. Já sabemos: a humanidade mija. Agora parem com isso. Por que isso incomoda? Porque não dá para ver tanto filme com tanta urina. E por que continuam a fazer (será inconsciente)? Porque ninguém reclama. Vai continuar. Haja.

4 comentários:

  1. O motivo das cenas de mijo são para dar vontade de mijar no meio do filme, aumentando as chances de consumiram algo na cantina e aumentar o faturamento dos cinemas. Quem sabe.

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  2. A 1ª- Prova q a cultura entre homens é homosocial ao extremo, amiga de homem é p...
    2ª A bandeira vcs vão ter q me engolir.
    3º O mijo é uma tentativa forçaaada de realismo.
    Vejo tbem duas falhas quase q em todos os filmes:
    1ª Cenas de pescarias o peixe que já está fisgado há muito tempo já sai morto do rio.
    2º Cenas de início de chuva - O céu está limpo. Ouve-se o relâmpago, o trovão e a chuva em fraçao de segundos cai torrencialmente.

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