5 de novembro de 2020

BOITATÁ

 Nei Duclós 


Perdi a alma no acampamento

Voltamos para a cidade sem conseguir achá-la

Descarregamos a tralha e ela não estava

junto aos grumatãs na rede

Na caixa de anzóis

Na cartucheira

Na barraca verde sebosa


A alma teria se escondido só  por rebeldia?

Cansada do meu quarto, cadernos, escrivaninha?

Meu olhar no teto imaginando amores?


Queria ação, queria pesca

Continuar descendo o rio até as pedras

Onde moram os dourados


A alma ficou, livre no mato e no pampa   

Por isso sempre volto para visitá-la

Tire o barro dos pés, me diz 

Puxe um banco para o  chimarrão

Logo começa a escurecer, mazanza

E aí o boitatá vai aparecer

De olhos grandes


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