Nei Duclós
Um dos tesouros da Biblioteca Miguel Lobato Duclos é a
coleção completa das Vidas dos Homens Ilustres, de Plutarco, numa edição em
português da Editora das Américas, de São Paulo, de 1963. Traduzida diretamente
do francês, na clássica versão do abade Amyot, do século 16, o acervo do maior
historiador filósofo da humanidade nos deslumbra pela alta intensidade de
aprendizado e de prazer de ler. Essa união entre a leitura agradável e útil é
um dos destaques do prefacio do grande tradutor, que ao oferecer o trabalho de
toda uma vida para o rei da França, Henrique II, avisou que aprender grego ou
latim é uma tarefa árdua e que os leitores teriam assim acesso à grandeza dos
antigos na língua materna.
Amyot é considerado um dos pais da literatura francesa, o
estudioso que ajudou a formatar a língua como a conhecemos. Sua tradução foi
lida por séculos por autores, como Montaigne. O tradutor inglês, Sir Thomas
North, baseou-se integralmente nele e é nessa versão, também considerada um dos
pilares da literatura inglesa, que permitiu a Shakespeare escrever várias de
suas peças, como Julio César, Antonio e Cleópatra etc. Plutarco não cuida
apenas dos grandes feitos e das grandes personalidades, mas dos detalhes, da
vida doméstica, dos erros e arrependimentos. Baseou-se em vasto acervo da
época, disposto em inúmeros livros de historiadores e filósofos e também da
tradição oral. Além de fundar sua narrativa também na iconografia de estátuas,
túmulos, mausoléus, templos etc.
Li sobre Demóstenes e Cícero, Alexandre Magno e Julio César.
Várias referências culturais a que estamos acostumados estão ali explicados na
sua origem. O vim, vi venci e o atravessar o Rubicão de Cesar, o corte do nó
górdio de Alexandre, entre outros. O prazer de ler e de aprender, graças ao meu
filho, que cedo se foi desta vida brasileira, depois de só ter feito o bem e
nos deixado seu acervo para que aprendêssemos um pouco, apenas uma pequena
porção do vasto conhecimento que adquiriu em 37 anos de dedicação e estudo.
Sem a memória, diz Amyot, sem sabermos o que os antepassados
fizeram, vamos entrar em colapso de ignorância e trevas, que é o que está
acontecendo atualmente, onde as lições do passado servem para aparelhamentos
ideológicos do presente, no rega bofe da corrupção e da miséria.. Miguel nos
ilumina, nos trazendo obras fundamentais que ele pesquisou em inúmeras
livrarias, sebos e bibliotecas. Ler com proveito e prazer, eis a solução para o
vazio das nossas vidas.
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